Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Viagem dentro de nós

Entraste em mim
como um rio que passa
galgando as margens
em busca do mar.
Atravessámos toda a corrente
como dois madeiros presos
até chegarmos a um areal
à hora da praia-mar.
Aí encontrámos a nossa casa,
o nosso mundo,
o modo certo de estarmos.
Então chegou a vez de ser eu a entrar em ti
e de, por fim, nos amarmos.



SS

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

TARDE

Caiu a tarde
E nem dei por ela.
O trabalho em que me ocupei
encheu-me tão totalmente
Que nem pensei em mais nada.
Por isso não te escrevi,
nem mesmo sequer te liguei.
Mas será preciso fazê-lo
quando sabes que o meu tempo,
faça eu o que faça,
está todo cheio de ti?


SS

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

CONVITE EM DIA DE CHUVA

Não parou de chover
em todo o dia
e o vento arrastou tudo à frente.
Não gosto deste tempo
que por ser cinza mais esfria.
Mas, convenhamos,
nem sempre é um estorvo.
Pode funcionar em termos de alusão
Ou de um convite claro
para algo que nos agrada:
"Que tal irmos para a cama?
Demoras muito ou pouco, amor”
“Esperar eu? Que nada."

SS

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Preciso do teu abraço 

Naquele modo de estar

Sem palavras

Mas que sinto

Como um disfarce

Porque me dizem mais do que a tua própria voz.

Quando estás assim em mim

Sei que somos realmente nós.

SS

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

TEMPO SEM TEMPO

Pesa-me cada semana,
cada dia,
cada hora,
em que não te vejo ou te não te falo.
Mais do que uma ausência,
este quase nada que temos é um tormento.
Temos  de nos libertar
para rompermos o que nos afasta
e retomar a vida que perdemos.
Chega de esperar:
este nosso amor
já nos fez perder demasiado tempo.

SS

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

PERDIÇÃO

Mesmo quando estás longe
ouço a tua voz
num som sem palavras
que me chega envolto em saudade.
Sinto-te em cada uma delas
e adivinho-te a procurar-me,
perdido  entre o desejo e o amor.
Talvez por isso o longe nunca nos afastou
e cada encontro é como a primeira vez
naquele dia em que eu fui a seduzida e tu o sedutor.

SS

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

UM BEIJO

Um beijo
só um beijo
para que o meu corpo
não esqueça o teu.
Custa tanto, amor,
viver deles vazia.
É como alguém abrir as mãos
olhar
e não ter nada de seu…

SS

sábado, 11 de outubro de 2014

Perdi-te, amor

Perdi-te, amor,
no vento que sopra em contratempo,
no espaço que não se deixa medir,
no passar dos dias que já nem sentimos,
na rotina diária que nos confunde,
nas palavras vazias que proferimos.

Para te encontrar
há que voltar atrás e encontrar o tempo
em que o espaço existia e os dias se ajustavam
ao mundo que ambos construímos,
na partilha de gostos e anseios
de seres que viviam porque amavam.

Perdi-te, amor,
mas vou-te encontrar.
Sumiu-se o teu rasto na bruma que se ergueu
mas não o alento para te resgatar.


SS

domingo, 5 de outubro de 2014

RAIO

Quando me viste
não foi o sol poente que te envolvia
que te fez brilhar
ou retocou a tua imagem
para lhe dar uma nova aparência.
Tu próprio emitias uma luz florescente
que vinha de ti, lá do fundo do teu íntimo,
em busca de alguém a quem gostarias
de iluminar de uma forma diferente.
Viste-me e eu vi-te
e, num repente,
pressenti  que, só de olhar, me trespassaras
como o raio de um sol incandescente.


SS

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

MULHER DE NOVO


Chegaste até mim
quando menos esperava.
O tempo  que nos foge entre os dedos,
a cada hora que passa,
já me fizera esquecer
que o coração nunca para de bater.
Acolhi-te  quando me estendeste a mão
e segurei-a de encontro ao meu peito
para evitar que me fugisses
e não te voltasse a ver.
Mas mais do que isso 
foi o ardor que pressenti em ti
que me fez voltar a sentir mulher.
SS
 

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ÂNSIA


Esta ânsia de te encontrar
é bem mais forte do que eu.
Prende-me ao tempo
e sinto cada segundo como se fosse uma hora.
Os passos na rua sobressaltam-me
e cada vez que os ouço corro
pensando que és tu a chegar.  

Não demores muito amor
e, quando vieres jura-me, por nós, que ficarás comigo.
Não suportaria que chegasses para logo ir embora.
SS

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

PRESENÇA


PRESENÇA

Tenho a tua presença no meu corpo
Em vestígios imperceptíveis.
Ninguém os vê
Ninguém lhes toca
Nem os adivinha.
Apenas eu conheço
A sua forma
Sei o seu local
E inspiro o seu odor.

Sinais de posse
E de querer
Cada um é um marco real
Do mapa que esboçamos
Para vivermos este amor.

SS

domingo, 21 de setembro de 2014

O MEU PARAÍSO

O meu paraíso não tem Eva, nem Adão 

e muito menos serpente.

Existe dentro mim

tem flores e mar 

mas nunca gente. 

Surge de forma espontânea

na minha mente

quando paro p´ra sonhar.

Tem a forma de um jardim

porque Deus esqueceu-se

de lá fazer um pomar.

E sem fruta proibida

faço tudo quanto me apetece:

não há quem me aponte pecados

ou sequer pense mal da minha vida. 


SS

sábado, 20 de setembro de 2014

ESCAPAR


Que tal fazermos uma escapada

Voarmos para a terra do nada


E construirmos um espaço para os dois


Onde haja sol, paz e muita esperança


E  em que cada dia seja para nós uma novidade


Como eram todos aqueles que vivemos


Quando o nosso dever era apenas ser criança?




SS

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

AS TUAS PALAVRAS

Soam-me as tuas palavras ao ouvido
num eco que vem de longe.
Não as percebo. 
Intuo-as.
Embora parcas,
sei que gostas de mas dizer
mesmo quando não falas
apenas as pensas,
e eu tenho de as adivinhar

no rasto do teu olhar.

SS

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

SILÊNCIO DO SOL

Hoje,
Como todos estes dias, choveu.
O sol não apareceu
Nem sequer quis espreitar.

Eu esperei todo o dia
que ele se arrependesse
e aparecesse.

Mas isso não aconteceu
porque hoje foi  um dia
que o sol escolheu para se calar.

SS

domingo, 14 de setembro de 2014

SEDUÇÃO

De certeza que não foi o teu olhar
Nem o teu corpo que me seduziram.
Quando os vi
Eu já te conhecia.
Tinha-te esboçado nas palavras,
Escritas e faladas,
Vindas do longe para mim
E que transpareciam no riso fácil                       
De quem está de bem com a vida
E consigo.

O que me seduziu realmente
Foi o que fui aprendendo
Em conversas informais
Ou em debates profundos.
Em ti encontrei sabedoria
E voei para outros mundos .

SS

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

AMAR NUM POENTE

Vem comigo,
mas vem em silêncio
para não estragar o momento
que, para mim, é o mais belo do dia.
O ruído das palavras desconcerta-o
e não quero nada que nos perturbe.
Desçamos até à praia,
vazia  para nós
porque esta hora
é minha, só minha,
e não a empresto a ninguém,
nem mesmo a ti.
Só te a deixo partilhar
porque és uma parte do plano
que tracei para nós dois:
o de te amar um dia
num poente à beira mar.

SS

quinta-feira, 11 de setembro de 2014


Uma a uma
tenho visto esvaziarem-se as palavras
dos sons que me traziam
e me faziam apetecer usá-las.

Por isso busquei o silêncio
que me permitindo ouvir o nada
me fez mergulhar dentro de mim
e a pouco e pouco repensá-las.


O dia em que recuperar os sons perdidos
Será o momento de voltar a libertá-las
SS

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

ENCONTRO PROMETIDO

Prometeste vir encontrar-me
num cruzamento de estradas.
É certo que não disseste o dia,
referiste umas datas possíveis ao acaso,
as que julgavas mais convenientes.
Mas o mês vai já quase na metade
e não me chegam sinais da tua decisão.
A cada dia espero que cumpras a promessa
e me digas quando nos vamos encontrar.
Se não vieres, esconde-me a verdade
da razão dessa promessa falhada.
Alega que não vieste por causa do trabalho,
não suportaria que fosse por falta de vontade.

SS

sábado, 6 de setembro de 2014

Recado

Ouço a tua voz
trazida da distância
pela mesma brisa que carrega
o aroma das uvas a começarem a fermentar.
Consigo mesmo seguir o percurso que ela faz,
por entre montes e vales
rasgados por um rio sinuoso
mas tão calmo e doce
que nem se nota a correnteza.


Ouço a tua voz,
mas não te vejo.
Que  importa?
O caminho que lhe indicaste,
para me encontrar e transmitir o teu recado,
foi desenhado por ti com os fragmentos
de tudo quanto para nós é a beleza.

SS

terça-feira, 2 de setembro de 2014

DESAMOR

Pior que um amor perdido
é o desamor.
O amor perdido
passou
encheu-nos a alma
mostrou-nos o perfume da felicidade
fez-nos sorrir, ainda que brevemente
e  depois… bateu asas e voou.
Mas mesmo que por instantes
a marca dele em nós ficou.

O desamor
nasce na ânsia de conhecermos o amor
por isso esperamos
a sua chegada,
sonhando com ele
como real e nunca uma fantasia.
Mas,  indiferente,
passa por nós sem sequer nos ver
e deixa-nos na alma o sabor a nada.


SS

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A MINHA CASA

A minha casa sou eu própria:
em mim vivo
em mim durmo e sonho
em mim me alimento
em mim me resguardo
da chuva, do vento
e  de outros temporais.
Nela me sinto segura
porque quem me persegue
nunca me vê
pois só encontra uma casa. 


Assim amor,
quando cansado
o corpo te pedir  repouso,
segue o coração e acharás a minha casa,
o lugar que escolhi para vivermos 
e onde encontrarás finalmente
o teu verdadeiro pouso.

SS

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

ETERNIDADE

Sigo-te
no voo dos pássaros
que fizeram ninho no meu jardim.
Imagino-te
no rasto do avião
que passou agora sobre mim.
Procuro-te
em cada rua que passo
neste meu vadiar sem-fim.

Mas nunca te tenho.

De ti só me chega
o aroma amargo da saudade.
Conservo a esperança
que nos encontremos
no caminho que nos levará até à  eternidade.

SS




quinta-feira, 28 de agosto de 2014

PENÉLOPE

É a hora da partida,
de fazer com a saudade o tear
em que tecerei o tempo que há-de vir.
Cada dia 
será um novo fio da teia
que me liga à esperança da chegada
e que, a cada noite,
desfarei
para renovar a ilusão
que me alimenta o sonho
do nosso reencontro em Ítaca.

(Seja lá Ítaca onde for)

SS

ENCONTRO

PROCURA

Procuraste-me
durante um tempo em que tu eras só tu
e eu apenas eu.
Um dia ousaste avançar
para outro lado do mundo,
afrontando o cansaço
ou o medo.
Aí me encontraste
e eu acolhi-te.
Passámos então a ser nós.

Que pena, amor, não teres chegado até mim
Um pouco mais cedo.


SS

terça-feira, 26 de agosto de 2014

OUTRO TEMPO

Houve um tempo
em que não havia espaços vazios
entre nós.
Os nossos pensamentos
corriam como rios
para encontrarem o outro
em qualquer margem,
cruzavam o ar
montados em pássaros
ou levados pela aragem.
E, mesmo à distância,
sem sabermos um do outro
sempre fomos capazes de nos encontrar.

Tudo mudou.
Os espaços estão vazios.
Esquecemos as rotas das viagens
e  até já não sabemos de nós.
O tal tempo que houve,
e que foi sempre só dos dois,
converteu-se num outro. 
sem sinais nem referências,
e que, ao contrário do primeiro,
é um tempo de estarmos sós.

SS


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

DEFINITIVO/ INFINITIVO

Definitivamente
falar para quê
quando não apetecem as palavras
a quem as dirigimos?
Se temos que as usar
há que decidir num segundo
quem realmente  as merece
ou a quem devemos calar
o sentir do  nosso mundo.

Por isso evito falar
quando dentro de mim adivinho
quem não pretende escutar
as que escolho com carinho.
Entre as que prefiro usar
para dizer o que sinto,
a quem gosta de escutar,
ofereço  a forma mais bela
que a gramática me oferece:
o infinitivo de amar.
SS




quarta-feira, 20 de agosto de 2014

TRATO DE AMAR

Não abras a porta
se não for eu a bater.
A tua porta já conhece o meu toque
e, se não o conseguires pressentir
por já estares a dormir,
certamente ela te irá acordar
porque já se habituou a ele
e sabe que, todas as noites,                                  
impreterivelmente,
mais tarde ou mais cedo,
eu irei chegar,
em sonhos ou pessoalmente.

A tua porta
(não a da saída, mas a da entrada).
no seu silêncio e na sua discrição
é a única presença estranha
no nosso privado trato de amar.

SS

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

MADRUGADA

Não abras a janela, amor.
A noite não acordou ainda
e as estrelas não sabem contar o tempo
para avisar quando finda.
Aproveitemos as horas que nos restam
para acabarmos tudo quanto começámos.
São sempre bons estes restos que nos sobram
para permanecermos lado a lado saciados
amando-nos  entretanto apenas com o olhar.
Deixa-te ficar, inteiro, até que chegue o momento
em que terás mesmo de me deixar.
Quando saires, fecha a porta com um beijo,
o teu sinal secreto de me avisares
que vais, só porque tens de ir,
mas que com a luz da primeira estrela,
irás voltar.

SS

terça-feira, 12 de agosto de 2014

AS NOSSAS PALAVRAS

Houve um tempo
em que jogávamos com as palavras
como com os sentimentos.
Ambos tinham a mesma força
e o que diziam
sugeria-nos sempre emoções e sensações.
Cada palavra
longa
breve
fluente
inteligente
era pronunciada com doçura
e dava às nossas conversas
o desejado tom de debate
que abria infalivelmente a porta ao amor.

Agora que o tempo pressagia ser mais curto
tentemos recuperá-las para a nossa vida
devolvendo a cada uma o antigo sabor.


SS

domingo, 10 de agosto de 2014

NÓS

Perdemos o hábito de nós
Do nosso cheiro
do nosso calor
do nosso toque
da nossa pele
Sinto que tudo isso
não foi mais do que uma oferta tardia da vida
que recebemos sem esperar.
Depois
fomo-nos consumindo
no tempo, no espaço
e sempre na ausência.
Feito o balanço
do que existe ainda entre nós 
será que sobeja alguma coisa
que consigamos recuperar?


SS

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

CHEGASTE NUMA MADRUGADA


Chegaste  de madrugada
sob a forma de visita inesperada.
Tinhas atravessado o mar sem fundo
e acompanhado a rota das aves marinhas.
Encontraste-me
para além das montanhas
onde havia um rio com a cor do ouro
e o ar cheirava a fruta doce.
Os pinheiros, ao sabor do vento,
tocavam a música que me embalava.
Recebi-te como hospedeira
de um hotel que ainda tinha vazio um lugar.
Aí te instalaste e, porque te agradou
acabaste por ficar.
Longo tempo passou,
tudo continua igual:
Nem a distância
nem as ausências
nos desviaram do curso traçado
porque tudo para nós foi sempre natural.
Chegaste numa remota madrugada
e permanecemos até hoje
presos pelo mesmo fio que nos uniu,
que ambos atamos, mas que não se vê
porque foi tecido por nós a partir de um nada.

SS

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

SONHAR CONTIGO

Sonhar contigo
Ao raiar do dia,
Quando os lençóis
Ainda guardam o cheiro         
Do amor da noite que acaba,
E os nossos corpos adormecidos,
Se bem que inconscientes,
Ainda se procuram,
Sonhar contigo,  a essa hora,
É sentir que a vida nos abençoa
Iluminando a nossa intimidade
Com os primeiros clarões da aurora.

SS


domingo, 3 de agosto de 2014

URGÊNCIA

Não espero beijos nem abraços
no nosso reencontro.
Claro que os terei
só que não são eles a razão
do amor que há entre nós.    
Mais importante é o nosso olhar
que, sem falar, nos conta
tudo quanto se passou na nossa ausência,
e nos enreda  na teia de desejo
que a saudade teceu no nosso tempo.
É por isso que de ti espero tudo 
porque o amor para nós é sempre urgência.

SS

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Estou vazia de tudo.
Das minhas mãos mesmo abertas
Já nada sai.
Perdi quanto tinha
No desvario do passar do tempo
Nos desamores vividos
No desfazer das malas de viagem.

De tudo sobrou-me um coração desabitado
E que somente palpita
Quando é agitado pela aragem.

SS

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Sinto-te perto

Sinto-te perto
Na manhã que me acorda
Na tarde que vou entretendo
Na noite que me adormece.
Sinto-te perto na nuvem que passa
No sol que brilha em céu azul
Nas nuvens cinzentas da chuva que cai
Nas estrelas que me velam o adormecer.

Sinto-te perto como se fosses aquela parte de mim
sem a qual eu nunca poderia viver.

SS

sábado, 26 de julho de 2014

Ella Fitzgerald -Feelings

Somos Eternos

A sensação que tenho sobre nós
é  a de que  “Somos Eternos!"
Não nos importa saber como e porquê estamos aqui
e ignoramos mesmo se um dia  vamos ter um fim.
O nosso quotidiano partilha-se
entre o que sentimos e o que pensamos
num debate contínuo
de ideias, de quereres e de afazeres,
que moldam
e preenchem a nossa existência.
Para nos entendermos
basta-nos cruzar olhares.
Só necessitamos das palavras depois
quando, já no tempo e no espaço,
descobrimos, por mero acaso,
que sempre fomos um
e nunca  dois.


SS

sexta-feira, 25 de julho de 2014

TEMPO ESPERADO

Há dentro de mim um tempo esperado
mas que nunca vejo chegar.
Convive comigo desde que nasci,
mas nos anos que passaram já
nunca nos encontrámos.
Por isso o não sei descrever.
Apenas o imagino
como um momento de paz.
um espaço de calma
e quase sem  gente,
apenas a suficiente para eu ser capaz
de não me sentir só.
Se, por acaso,
alguém encontrar por aí um tempo assim
e o quiser partilhar,
não se esqueça de mim.

SS

quinta-feira, 24 de julho de 2014

SILÊNCIO


Gosto das palavras

Que troco e destroco

Com quem me cruzo,

Mas para a minha paz funcionar

É o silêncio o que mais uso.

Mergulho nele

E deixo-me levar

Como ave empurrada pelo vento

E sem saber onde vai parar.

Definitivamente

No som do silêncio

Concebi o meu espaço

E encontrei o meu alento

 SS

quarta-feira, 23 de julho de 2014

SORTE


Talvez um dia
eu te encontre por aí
mesmo sem te procurar.
Sabes,
às vezes tenho dias assim
em que a sorte anda distraída
e vem ter  comigo
trazendo-te com ela.
Mas ultimamente anda arredia
e tem-me votado ao esquecimento.
Hoje à noite vou tentar falar-lhe
para lhe pedir que me mude
para um lugar mais  visível
e onde me possas  achar.
Estou farta de ser sempre eu quem procura
E tu quem se deixa encontrar.

SS

terça-feira, 22 de julho de 2014

SALDO DE FIM DE TARDE

Chegaste bem cedo neste fim de tarde.
Como não te esperava tinha adormecido
e só te senti quando me beijaste.
Mesmo de mansinho,
o teu beijo tem o condão de me acordar
porque com ele chega o teu cheiro,
a carícia das tuas mãos,
o teu calor.
Aproveitemos então o que nos resta deste dia
e saldemos tudo quanto ambos devemos 
às contas por pagar do nosso amor.

SS

EU

Hoje contei mais um dia entre muitos outros.
Foi mais um da longa lista de dias passados
apenas na minha própria companhia.
Não, não fujo de ninguém
nem me aflige ter gente por perto,
mas sabe-me bem um pouco de  solidão,
em dose necessária para pensar em mim:
Quem sou, de onde venho, para onde vou.
Isso exige-me  muita reflexão
e as pessoas distraem-me
e impedem-me de me ver tal como sou.
Um dia, talvez, consiga reconhecer-me.
Mas para tal a minha vida terá de sofrer uma viragem
que me obrigará a renascer.
Para o conseguir
precisarei de um novo sentido para o meu caminhar
mas, sobretudo, de um companheiro de viagem.


SS