Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 14 de julho de 2012

MORO EM TI

Tu foste o espaço que escolhi para meu lar
não para minha casa.

Na casa está-se apenas
como num lugar de passagem. 

O lar somos nós quem o fazemos e é onde ficamos
por isso ali está tudo quanto somos e queremos.
Recheia-o a nossa existência
e ali vivemos um tempo que é só nosso
partilhando-o entre os momentos de sorrir e os de chorar.
Ele exprime a verdade inteira da nossa imagem.

Por isso moro em ti
porque foste o espaço que escolhi para meu lar.


SS

sexta-feira, 13 de julho de 2012

FIM DE TARDE

Sabe bem, amor
ouvir a tua voz ao fim da tarde
quando a fadiga me chega envolta no poente.

É hora em que adivinho um sorriso terno nos teus lábios
e sinto o teu corpo, também cansado, procurando o meu
para descansarmos envoltos num abraço ardente.


SS

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Deixemos de lado as tretas
as pequenas coisas dos outros
que nos perturbam e incomodam.
Essas não valem os nossos pensamentos.

Há coisas à nossa volta
bem mais importantes
que nos unem não só porque são aliciantes
mas porque representam tudo o que esperamos da vida.

Discretas, conduzem-nos em silêncio
A uma união de pensares que só a nós pertence,
e que é o sentido do prazer dos nossos momentos.

 SS

quarta-feira, 11 de julho de 2012

TEMPOS

Foram manhãs
de beijos acordados…
Foram tardes de temas debatidos…
Foram noites de desejo satisfeito…

Agora,
é o desfiar
de momentos recordados
das palavras ditas e das que ficaram por dizer

É a saudade a bater
nos corações de ambos
com um certo gosto a fel
que deixa um travo amargo na nossa ausência
não nos tirando contudo o sabor a mel
de cada momento partilhado.


GM

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Nesta casa,
volto à infância
no calor das tardes,
no amodorrar da sesta,
no zumbido das vespas
que pareciam contar histórias sem fim
no seu voo sussurrante junto das minhas janelas,
no ladrar dos cães, meus guardiães e cúmplices de aventuras,
no bater das horas no sino da capela

e no assalto às maçãs da dispensa do padre
(distraído na conversa com a catequista)
enquanto, nós, a canalha, esperava pela hora da doutrina,
e, sobretudo, nas noites das desfolhadas e das espadeladas, entre risos e cantares…

 Ah, como eu recordo feliz o Douro da minha infância,
apesar de estar lá no papel da “doentinha”,
da menina dos pulmões fraquinhos
a quem nunca ninguém impediu de subir ás arvores
ou andar distâncias sem fim a pé para ir à feira de Lousada.
E o certo é que não morri e acabei vacinada.

Cresci fogosa e apaixonada
E na saudade pelo tempo que vivi

Mas este Douro, o meu Douro de hoje

é mais "doiro"
não por eu ser mais velha,
mas porque agora me extasio menos com as pessoas
mas mais com a Natureza.
Sinto-me plena nesta extensão
que promete não ter fim,
onde o silêncio se confunde com o calor
ou vice-versa,
e as cores se reflectem em mim
vestindo-me da cor da paz,
algo entre o vermelho e o castanho
que se confunde com o verde da terra e o dourado do sol.

Aqui percebi que existe Deus
porque só um ser especial,

nunca um pintor,
poderia ser o autor de uma tela desta beleza
onde, sem aparecermos,
nós e todo o mundo estamos lá.

SS
 

domingo, 8 de julho de 2012



Queres-me, amor?

Perguntam-me os teus olhos ansiosos

quando despem os meus.


Pergunta inútil que fazem

esses teus luzeiros


quando são eles o meu deus.

SS