Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 27 de outubro de 2012

ESPERANÇA


Despi-me completamente
do cinza do dia de hoje,

do desconforto da solidão,
das saudades que teimam em não me largar
e lancei-me a uma tarefa inesperada.

Nada como começar um trabalho,
sobretudo se acidental,
para despertar.


Por momentos, anos ou dias,
viverei tão embrenhada na novidade
que me despirei das tristezas
e cada momento passará a ser (se correr bem)
de pequenas e espontâneas alegrias.

Por isso
parti para o desconhecido
e para longe do habitual, do quotidiano,
soltando-me totalmente da rotina. 

Não sei onde vou parar.
Não sei o que vou fazer.
Apenas espero que, enquanto durar,
eu seja capaz de conseguir renascer.


SS

sexta-feira, 26 de outubro de 2012


Quando o mau tempo acabar
jura-me, amor,
que tudo vai ser como dantes.

Que vamos voltar a partilhar
o tempo que roubávamos aos outros
e guardávamos inteiro para nós
apenas para estarmos.

Que boa era essa coisa simples de estarmos!
Falávamos (até tu, que és tão avaro nas palavras),
discutíamos
ríamos

passeávamos
e a cada intervalo que fazíamos
nos amávamos.

Jura-me, amor,
que quando o mau tempo acabar
vamos voltar a ser tudo quanto fomos antes.


SS

quarta-feira, 24 de outubro de 2012


Falta-me o chão
Aquele espaço térreo a que cresci agarrada;
Falta-me o horizonte
Aquela extensão onde julgava ver toda a minha vida esboçada;
Falta-me a certeza
Aquele lugar de segurança em que tudo é uma verdade;
Falta-me a esperança
Aquela virtude que me fazia pensar que ser gente era uma qualidade;
Faltam-me as pequenas coisas de todos os dias
As que me mantinham estável no meu percurso para a eternidade.

Perdi-me eu de mim
Caminhante num país sem rumo nem integridade.


SS