Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

DIA DA POESIA 2015



Entraste em mim
com uma nova Primavera
que plantaste no meu Outono.
Encheste-me os dias
de novas cores,
de sons que eu esquecera
e de palavras que deixara de usar
porque já lhes perdera o sentido e  o uso
Com o escorregar do tempo.
Não imaginava que acabasses por ficar, 
pássaro errante como és.
Mas nenhuma estação te arrastou mais
para outros lugares.
Depois, sem que me apercebesse,
delineaste um círculo
onde me prendeste,
refúgio só de nós sabido
e onde ninguém perturba
a nossa forma única de amar


GM

domingo, 29 de novembro de 2015

SENTIR

Da minha casa não vejo o mar
mas Sinto-o
no cheiro da maresia que o vento espalha
no ronco abafado da maré
que ouço sempre que há temporal.

Da minha casa não te vejo
mas Sinto-te
no raio de sol que me aquece de manhã
na rosa que acaba de nascer
e no pássaro que pousou no meu quintal.

Presença não é condição para amar.
O Amor nasce e cresce em nós de qualquer jeito
se tivermos a capacidade de sonhar.

SS


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

SENSAÇÕES


E de repente
a tarde vestiu-se de cinzento
tapou o sol
o tempo pareceu mais lento
pela penumbra que nos cobriu nesse momento.
E entre nós a conversa acabou
não sei se por falta de argumento
ou simplesmente pelo abatimento
em que ficamos sempre quando a luz se vai.
Não fiques triste, amor, amanhã é outro dia
as nuvens serão empurradas pelo vento
e de novo o sol sobre nós brilhará.
Só precisas de chegar a tempo
para não perdermos nenhum momento
do gozo de vida que cada manhã nos dá.


SS

terça-feira, 3 de novembro de 2015

SILÊNCIO


Hoje
Foi mais um dia
Em que perdi o autocarro.
Não sei se fui eu que me atrasei
Ou se tu te adiantaste
O que vai dar no mesmo:
Não nos falamos.

Mesmo à distância
Dói este desencontro inesperado
Porque quando não te ouço
Torna-se difícil
Senão impossível
O imaginar ter-te a meu lado


GM

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

CÚMPLICE DE TI

Cúmplice de ti

Nos pensamentos e nos momentos

Que partilhamos

Cúmplice de ti

Mesmo à distância

Quando o tempo se mede em saudade

Cúmplice de ti

Em tudo que sentimos e que somos

Porque este amor sonhado a dois

Desabrochou em unidade.


GM


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

PECADO RITUAL

Sinto saudade
desse teu ar meio trocista,
meio apaixonado, 
quando, depois do amor,
te deitas de mansinho a meu lado.


Há nos teus olhos uma paz feita de gozo
 

que sem cessar esvoaça sobre nós 

derramando-se inteira sobre mim. 

E se te pergunto: isto é pecado? 

Respondes sorrindo à minha dúvida:

Será que pode ser pecado amar assim?

SS

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Tempo

TEMPO
Não temos tempo, temos saudade,
amamos em intervalos cruzados,
entre a ausência e a ocasião,
determinados pelo acaso
que corre sempre veloz.

Mas , quando estás,
o teu corpo é o meu também
porque ambos cabemos num só.
E após saciada a saudade
o tempo somos só nós.
SS

terça-feira, 18 de agosto de 2015

ULISSES E PENÉLOPE

Como Ulisses
Iniciaste pouco a pouco
Uma viagem que te está a levar
Para bem longe de mim.  
Não sei o que persegues
Desconheço a rota do teu navegar
E muito menos a data do regresso,
Se é que um dia vais voltar.

Como Penélope 
Encherei o meu tempo
A procurar os teus sinais no horizonte,
Tecendo uma teia com fios de esperança
Que desmancharei a cada noite vazia de ti
Mas retomarei nas auroras seguintes
Até ao dia em que decidas retornar.

SS

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Voltar

Espero ver-te voltar
Um dia ao final da tarde.

Quando a luz do sol
Bate sobre mar
E me encadeia
Enrolam-se em mim
Sombras estranhas
Que sugerem faunos
Em que o humano e o bestial se confundem.
É a hora em que acredito em mitos
Lendas e outras histórias
E em que me sinto deusa sem ter deus
E o mar é o meu panteão
É quando sou Penélope sem Ulisses
E a tua memória é o meu tear

Por isso de todas as horas
Essa é a melhor para Voltar

SS

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

MAIS UM DIA

E passou por mim mais um dia
que amanheceu feito esperança,
de carícias e de amores ansiados.
Mas a noite, ao chegar, trocou-lhe as voltas
e  vestiu-o todo de saudade.

Amarga sina a de quem ama sem cautela
e se deixa envolver em devaneios,
pedaços de desejo que se consomem,
soltando para a brisa, que por ali calha de passar,
sonhos desfeitos e sobras de felicidade.


SS

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Sinto-me imersa numa imensa letargia
e as minhas palavras ,
aquelas que te escrevia a cada dia
para que eu nunca desaparecesse de ti,
surgem-me lentas, desalinhadas,
sem brilho, nem cor
como se algo nelas tivesse morrido.

Contudo, dentro de mim
elas vivem e gritam-me
pedindo que quebre as grades
da prisão em que as guardo
para retomarem o seu voo até ti
como se esta ausência que eu própria criei
nunca tivesse acontecido.


SS

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Tempo

Hoje desliguei-me do tempo.
Passei pelas horas
como se elas não existissem.
Não senti a manhã,
esqueci a tarde
e vou avançar a noite
recebendo alegremente
o novo dia
que aguardo dentro de mim.

Então voltaremos ao ponto de partida
e comprovaremos que o tempo e a distância
se deixam marcar nas nossas rotinas
mas nem sempre são prenúncio de fim.

SS

terça-feira, 16 de junho de 2015

PERDI A ALMA


Perdi a alma
no chão do meu país.
Nas palavras que se dizem
nas que não se dizem
nas que não querem dizer nada.
No rosto dos velhos
de rugas profundas
na idade e no abandono;
no dos que não podem dar
porque não têm dono;
nos jovens que vagueiam
em busca do futuro
por um caminho estreito
vedado por um muro;
nas mães que choram
embalando os filhos
nos braços vazios de pão para dar;
nos barcos desfeitos
no fundo do mar;
nos campos vazios
e que deviam criar;
no cinzento escuro
de um céu outrora azul
lembrando paz e harmonia;
num mar que foi verde
sugerindo esperança
e a sua riqueza
a nossa alegria;
nos homens errados
que mandam em nós
e que nos traçam a vida 
com ardis na voz
atirando as culpas
para os usos e memórias
da nossa raiz.
Perdi a minha alma
no chão deste meu país.


SS 

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Dias/noites

DIA/NOITE

Em cada manhã que nascia
era a algema dos teus braços
a prenderem-me
sobre os lençóis amarrotados
da noite que findara.

Em cada tarde era espera
que o sol de escondesse
e que tu voltasses
para me encontrares
antes que a lua chegasse.

Em cada noite era o regresso
do amor que sobrara da véspera
e o adivinhar das palavras invulgares
que inventaras de dia
para à noite m' enamorares.

SS

quarta-feira, 10 de junho de 2015

ANJO LIBERTINO

O amor é novo todos os dias.
Anjo libertino
nada o impede de aparecer
e vir-me desafiar
para eu brincar com ele.
Nunca resisto às suas traquinices
e deixo-me arrastar
por tudo quanto ele me propõe e faz.

Cada pessoa tem um anjo destes em si.
Tu és o meu.
Será que sou capaz
De me tornar também num anjo destes para ti?

SS

Porque o amor é novo todos os dias

domingo, 7 de junho de 2015

AUSÊNCIA

O meu silêncio amor
não quer dizer nada
que não saibamos.
As nossas palavras
têm atravessado a cortina da ausência
e, apesar do tempo que partilhamos
para eu e tu sermos um nós,
precisamos daquela presença
que o telefone não dá.
Não é por ele que vejo os teus olhos,
sinto o teu coração
ou o calor de um abraço.
Preciso mesmo é do embalo do teu corpo
E do castanho do teu olhar,
lençol que envolve a minha nudez
nos momentos em que tu és o meu homem
e eu tua mulher mais uma vez.


SS

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Para lá

Para lá do tempo
Há um tempo longo, muito longo
Que não medimos nem nunca alcançaremos.
É um tempo de desejos.
De sonhos pintados a azul
Porque essa é a cor do céu,
O dossel do leito onde nos amaremos.

SS

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Amor de hombre - Mocedades

segunda-feira, 11 de maio de 2015

VOLTAR

Devagarinho
os teus olhos
desceram pelo meu corpo
em  busca do local
onde pararam na última vez.
Depois
chamaram as mãos,
que me tinham afagado com maciez
e,  aos poucos,
muito devagarinho
recuperaste a minha nudez
que se deixou possuir por inteiro
num desejo que não se explica
nem  responde a dúvidas ou porquês…


SS

domingo, 3 de maio de 2015

DESCONCERTO

Estou em total desconcerto.
Não sei se o meu mau estar 
é desta chuva contínua e pesada
que insiste em não parar
e que  desde madrugada
o  vento agravou bastante
ao bater  na minha porta  
e despertar-me do sono
como o som de uma granada.

Desculpa, amor, esta raiva
e não te incomodes com ela…
Isto sucede por vezes
e eu sei que vai passar.
Quando? Logo veremos…
Lembro-me que isto sucede
sempre que mais te desejo
e que por razões pessoais,
impedimento ou azar,
eu não te tenho por perto
para te poder desfrutar.

SS

sábado, 25 de abril de 2015

CLANDESTINA

Não sei que caminhos percorreste
até chegares a mim.
Sabias o que querias
mas desconhecias onde o achar.
Nessa busca, que parecia não ter fim,
acabaste por me encontrar
e, sem pedir licença,
tomaste-me  como uma pertença
que guardaste no coração,
lugar que eu própria escolhi
porque por ele corre o sangue
que te dá a vida que partilhas
com a  clandestina que vive dentro de ti.

SS

quinta-feira, 23 de abril de 2015

ACONTECEU

Tive-te sem te procurar.
Dádiva de um ser desconhecido,
de quem não sei o nome
e desconheço a proveniência ,
aconteceste na minha vida
sem que o tivesse pedido
e quando menos o esperava.
Chegaste por caminhos incógnitos
nas logo percebi
que vieste para ficar
porque cabias à justa
no espaço que eu reservara para o amor .
Ajustaste-te a ele e logo o preencheste
sem aviso prévio ou permissão.
A partir de então não mais o abandonaste
e tornaste-te para sempre meu senhor.


SS

terça-feira, 21 de abril de 2015

TALVEZ PORQUE CHEGOU A PRIMAVERA

Talvez porque chegou a primavera
recuperamos as nossas conversas.
Não que tenhamos deixada de falar,
por voz ou mesmo por pensamento.
Só que os temas andavam tão frugais
e tão desligados de nós
que temia fossem arrefecer
pela falta do sol e de calor.
Com a mudança de estação
aqueceste as palavras
pintaste-as com a esperança
e as promessas chegaram-me
em todo o seu esplendor.
Agora é só esperar
que os dias passem depressa
e o longe se torne perto
para então retomarmos
o tal debate aguardado
sobre nós dois e o amor.

SS





quinta-feira, 16 de abril de 2015

NA PARTIDA DE DUAS COLEGAS

Para a Manela Leal e a Inês que partiram esta semana 


Primeiro foram os anos de convívio diário
de amizade
debate
fúria e cansaço
alegria e entusiamo
mas, sobretudo,
do bulício dos alunos
e da dinâmica da escola
que era uma segunda família.
Como em nossas casas
havia  tarefas a fazer
num dever que nos tínhamos imposto
e que tentámos levar sempre  a sorrir.

A pouco e pouco fomos desaparecendo.
Umas em busca de um repouso apetecido,
outras porque Deus lhes traçou destino diferente.
Contudo restou  um  elo entre  quem ficou e quem  partiu
e as nossas separações  nunca foram esquecimento.
Cabe agora mantermos a fé de que nos vamos rever um dia
num espaço que Deus reservou para a nossa  eternidade
 e onde perceberemos que  a nossa vida neste mundo
afinal pouco mais foi do que um momento.


IL

sábado, 11 de abril de 2015

Dói-me a distância que nos separa
que não se pode medir
mas se sente no tempo que passa sem parar
esvaziado de ti.
Quantos mundos de amor por alcançar?
Quantos beijos por trocar?
Quantos abraços por dar?
Nem a força da paixão nem o desejo
Nos fizeram vencer tanta dificuldade.

A sorte quis que um dia nos juntássemos. 
O atraso do nosso encontro
ou o destino, por ciúmes, talvez,
roubou-nos essa oportunidade.

SS

sexta-feira, 27 de março de 2015

RUMAR DE NOVO



A manhã nasceu
O sol surgiu redondo
Do lado da cidade
E coloriu de rosa
O azul do mar.
Levantei-me de mansinho
Sacudi as penas
E fiz um voo curto
Para me alongar
E recuperar do medo da noite que findara.
Pousei na orla da maré.
Olhei para o alto
E pareceu-me ver,
Se bem que longe,
Um vulto ondulante de gaivota.
Aguardei ansiosa
Que se aproximasse
Para desfazer a minha dúvida
E confirmar a minha esperança.
E eis que ela chegava.
Num movimento em arco
Deslizou para junto de mim.
Cobriu-me com as asas
Cansadas de me procurarem,
segundo segredou.
Encantada
Abriguei-me nas suas penas
E mesmo sem falarmos
Percebi que não fora abandonada.

Olhei o céu
Olhei o mar
E no beijo que trocámos
Descobri
Que voltava a ter rumo novamente

gm

terça-feira, 24 de março de 2015

CABO DAS TORMENTAS


Passou o tempo
Em que a espera era só um pensamento
E não havia o longe
Porque tudo era perto.
Havia espaço para conversa
Preâmbulo de debates
Sobre temas variados
Uns actuais
Outros vindo de passados
Que conhecíamos
Mesmo sem os termos vivido.
Trocávamos cantigas de amigo
Pelas de amor
O que dava às questões muito mais calor.
E acabávamos fatalmente
com Pessoa
D. João II
e o Adamastor…

Passou o tempo
E com este legado
fomos construindo o nosso mundo!...

SS

domingo, 22 de março de 2015

Derradeiro Poente


É pena, amor,
Mas chegaste tarde.
Vieste na ponta do último raio de sol
De um derradeiro poente.
Não o fizeste de propósito
Acho que foi apenas
Porque não sabias o caminho até mim.
Não peças perdão.
Acredito que demoraste
Porque a viagem foi longa no tempo
E me querias trazer um presente
Que julgavas o mais indicado
Para alguém que não conhecias,
Mas cuja existência intuías
E querias encontrar
Para te descobrires a ti próprio.
E que certa foi a escolha!
Para alguém que vivia
Na sombra dos desafectos
Nada como o que trouxeste:
A luz desse teu sorriso.
Mal me olhaste, eu brilhei
E entendi de repente
Que apesar de tantas trevas
A vida tem um sentido.
Pena ter acontecido
No último raio de sol
De um derradeiro poente.

SS

sábado, 21 de março de 2015

PARTIR

Apetece-me partir
Perder-me na viagem
E não mais voltar.
Sempre que parto
carrego na bagagem
os sonhos que ficaram por sonhar
e que tento realizar
em cada lugar
em cada estrada
esperando que na voragem
das mil curvas a fazer
consiga arranjar coragem
para descobrir
se cada sonho perdido
não foi mais do que a miragem
de algo que busquei mas que perdi
porque não entendi a mensagem.


SS

domingo, 15 de março de 2015

REGRESSO A...


E de repente a manhã passou a tarde
enquanto as palavras se atropelavam
nas ideias, sentimentos e amores.

O longe fez-se perto.
O ontem tornou-se o hoje
no rasto das memórias
e na vivência dos momentos partilhados.

Sentir assim
não é saudade.
É voltarmos ao ponto onde nasceu
este bem querer gerado de uma amizade.


SS

terça-feira, 10 de março de 2015

REENCONTRO

E de repente a manhã passou a tarde
enquanto as palavras se atropelavam
nas ideias, sentimentos e amores.

O longe fez-se perto.
O ontem tornou-se o hoje
no rasto das memórias
e na vivência dos momentos partilhados.

Sentir assim
não é saudade.
É voltarmos ao ponto onde nasceu
este nosso laço bem atado em amizade

SS

segunda-feira, 9 de março de 2015

A manhã desfez-se na tarde
que surgiu luminosa
e cálida.
E a ausência que éramos tu e eu
deu lugar à presença
que fomos nós.

E a tarde escorreu no tempo
envolvida pelo som dos risos
e das palavras que não se escoavam,
alumiada pelo brilho dos olhares
e acalorada no desejo satisfeito.

E o dia escureceu
porque a noite apagou a tarde
sem que a tivéssemos sentido sequer passar.
E quando a madrugada anunciou nova alvorada

vendo-nos libertos já do peso da saudade,
distraiu-se ao ver-nos a sonhar.


GM

sábado, 7 de março de 2015

ESPERANÇA

ESPERANÇA
Sou feliz
talvez porque não tenho segredos
para esconder.
O que guardo em mim,
para além das coisas caladas
dos dias passados
e das dores sofridas,
é uma enorme multidão
de histórias de criança,
de mil e uma amizades
que fui colhendo como flores de um jardim,
de amores e desamores de uma mulher apaixonada,
tudo quanto sustenta a cada dia que passa,
as minhas memórias por inteiro.
Sou feliz
porque quanto guardo em mim
me ajuda a enfrentar cada manhã com uma nova esperança.
SS


sexta-feira, 6 de março de 2015

GOSTO

Gosto
quando abandonas o pragmatismo habitual
e te deixas levar pelos sentimentos
e sobretudo pelas sensações.
Então, e por momentos escassos,
consegue-se descobrir
o que silencias dentro de ti.
Isso acontece raramente
e sempre através de palavras fugidias
mas que, ouvidas com atenção,
nos fazem entender que esse teu ser, 
para além da matéria,
também é feito de emoção,
coisa que tentas sempre ocultar
não vá alguém, por acaso, adivinhar
que dentro de ti também bate um coração.


SS

quarta-feira, 4 de março de 2015

AMOR AO PEQUENO ALMOÇO



Hoje lembrei-me das nossas manhãs
de antigamente
e do amor servido com café
ao pequeno almoço.
Depois…
Depois valia tudo
menos olharmos para o relógio
para sabermos a hora.        
Nunca nos preocupamos com o tempo
porque foi ele quem, ardilosamente,
nos juntou
um dia, bem cedo,
ao raiar de uma aurora.

SS

segunda-feira, 2 de março de 2015

SÓS


Acordamos solitários nas madrugadas
Que despertam o sol.
Vivemos isolados nas tardes
Quer terminem ou não com um crepúsculo
(Mais ou menos dourado
Segundo as estações).
Adormecemos com ou sem luar
No retiro íntimo dos quartos
Que escolhemos a sós.
Cruzamo-nos sempre nos intervalos do tempo...
Nunca tivemos uma noite inteira para nós...

SS

sábado, 28 de fevereiro de 2015


27.2 O despontar das primeiras magnólias


A chuva

28.2

Devagarinho,
mesmo muito devagar,
a chuva cai
num bailado suave
sobre o meu jardim.
Mal abertas ainda,
as flores que ontem me alegraram o dia
fecharam-se  sobre si
para se protegerem
numa tentativa frustrada
de adiar o seu fim.

SS

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

TARDES DE FRIO

Ah! As tardes de frio
passadas entre lençóis
e guerras de cobertores
que acabavam normalmente no chão.
Os corpos bastavam para aquecer
o quarto todo
que se tornava pequeno
para  o combate
apaixonado,
intenso,
pleno,
e que terminava sempre
na partilha sublime de um saboroso empate…  

SS  

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Olhaste no fundo dos meus olhos
e adivinhaste-me
tornando tuas as pequenas coisas
que eu julgava guardadas só em mim.
Leste o livro dos meus sonhos
e partilhaste-os  com os teus,
num escrito a quatro mãos
que mais do que de amor nos fala de vida,                 
da imagem do nosso  dia-a-dia,
desta estranha maneira de ser e de estar.

Se alguém  o  conseguir ler
evite  criticar.
Limite-se apenas  a entender
que há mil modos distintos de cada um sentir
o que vulgarmente se designa  por “amar”.

SS

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Dor de não te ter aqui.
Talvez a tarde sonolenta
estimule mais esta saudade
dos momentos vividos.
Falta-me o silêncio da tua voz,
o olhar que me cobre por inteiro,
o teu corpo que busca o meu
em desejos tão extremos
que nos levam para além do possível,
para um universo onde nada nem ninguém
nos conseguirá alcançar
porque apenas nós
conhecemos os trilhos para o penetrar.

SS

domingo, 15 de fevereiro de 2015

PARAÍSO

Sentir-te entrar devagarinho
num andar de pássaro curioso.
Ouvir o meu nome bem baixinho
naquele tom de antegozo
de quem quer provar os pedacinhos
de um manjar bem apetitoso.
Adivinhar o meu corpo contra o teu
envolvido no lençol das nossas peles
e iluminado por meigos sorrisos...

Oh, meu amor, se isso não for o céu,
é certamente um outro paraíso.



SS