Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 22 de setembro de 2012

PALAVRAS NOSSAS




O que me atraiu em ti
ainda hoje me intriga…

Eras um ser sem rosto,
abstracto,
surgido de um mundo desconhecido e virtual.
Usavas as palavras
com a mesma forma e intenção das minhas
oscilando entre o académico e o pessoal,
o brejeiro e o tradicional,
tudo o que dá melhor sabor a um escrito
ou até mesmo a um simples dito.

Com o tempo
as nossas palavras,
porque só por nós partilhadas,
enlaçaram-se em sentimentos
e tornaram-se uma língua
deixando de ser linguagem.
E o que foi um encontro casual
passou a ser uma viagem

em que as palavras são o rumo
e os sentimentos o ponto de acostagem.


SS

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

VESTIDO OUTONAL



Neste verão já em despedida
fiz um vestido novo para te receber
com as folhas e flores caídas pelo chão
de um jardim quase outonal.
Moldei-as ao meu corpo,
costurei-as em camadas soltas e inconstantes,
numa espécie de cópia do natural,
e para lhes dar volume e movimento
soprei de mansinho lá para dentro
um pouco do que me faz bater o coração.

Como no primeiro dia em que nos amámos
se me quiseres em teus braços outra vez,
terás de desfolhar esse vestido novo
para melhor disfrutares da minha nudez.


SS

quarta-feira, 19 de setembro de 2012


Em cada um dos meus dias
teço mil fiadas de saudades,
pinto-as com todas as cores
e entranço cada uma delas nas palavras
que vou roubando ao vento do verão
que por mim passa, mas que como é cego

não me vê nem dá por falta delas.

Depois
mando-tas todas sob a forma de poesia
único modo que encontrei
para que caibam inteiras no teu coração.

SS

terça-feira, 18 de setembro de 2012


Hoje
o nevoeiro não permite o passeio habitual
à beira-mar.
Quando chegares,
pela tardinha,
sentemo-nos os dois a namorar
mesmo que sejamos  só nós, o nosso olhar
e um tema leve  para discutir.

Ao longo do nosso tempo
guardei as palavras que pensaste
mas que calaste

e que eram as que eu  gostaria de ouvir.
Talvez que no ambiente deste anoitecer,
que acompanha difuso a despedida do dia ,

as consigas finalmente exprimir.

SS

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Vamos roubar o tempo ao tempo

voltar para trás no percurso que fizemos

repetir hoje cada momento

de todos quantos ambos já vivemos.


Do enrolar dos dias que passaram à história

juntemos os sinais que nos marcaram

ou aqueles a que demos atenção.


Os que nada nos dizem, vamos devolvê-los ao tempo

e para nós ficará apenas o que temos na memória.


Tal como a planta que precisa de seiva para viver

sem memória nunca bate um coração.


SS

domingo, 16 de setembro de 2012

UM BEIJO À LUA


 
Esta noite
para onde quer que ela esteja,
e se é que está,
vou mandar um beijo à lua.
Sempre me fascinou e me pôs a sonhar
a luz que me chega dela
e já viajei muito, só ou acompanhada,
nos fios de luar.
Atrai-me até pelo que tem de segredo
naquela fase em que parecendo apagada
por mais que a procure não a vejo.

Por tudo isto e outras coisas mais,
para aquele céu onde brilha ou se resguarda
lhe vou mandar hoje à noite este meu beijo.


SS