Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 9 de junho de 2012


Escasseia-me o tempo

neste sem tempo de todos o dias.

Foge-me o tempo

no movimento

que me rodeia.

Perco o meu tempo

quando parto de mim

para ter que voltar.


SS

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Noite


Acordei quieta e em paz.
Hoje dormi
num sonho sem sonhos
e sem cuidados
que imagino semelhante
ao que seria
se dormisse a noite inteira a teu lado.

Ou talvez não.

Se estivesses comigo,
não iríamos resistir
a quebrar a noite pela metade.
Antes de dormir
embalar-me-ias
com palavras,
beijos
e carícias
que só acabariam
quando sentíssemos
os nossos corpos como um tronco só
nascido da seiva de um amor saciado.


SS

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Em menina sonhava com príncipes encantados
que me haviam de libertar de um encantamento
e tecer entre nós uma paixão.

O tempo passou
e, jovem, preferi os heróis dos romances que lia e relia
e a cada um entreguei o coração.

Enquanto a vida girava
o amor foi-se afastando de mim
ou eu dele, não sei.
Acabei por lhe perder o rasto
e julguei que me abandonara por fim.

Mas um dia, igual a qualquer outro dia
encontrei-o só e perdido
no meio de palavras vindas de um outro mundo
que eu não conhecia.

Acolhi-o com os mesmos sonhos de menina
mas com a lucidez de quem já muito viveu.
Renasci em plenitude nos seus braços
de que fez um ninho onde me acolheu.

Amor é sempre algo especial
e ama-se em qualquer idade
Mas é um privilégio quando ele surge
claro e sereno
em plena maturidade.


SS

terça-feira, 5 de junho de 2012

Bem pior do que a ausência
é o vazio
o desconhecido
o indecifrável

o não saber nada.

A ausência
é apenas uma separação
e como só está separado o que existe
não posso sentir-me abandonada.

Mas quando de repente
o silêncio se instala
e nenhum sinal me chega
entro numa espiral de desespero

porque como nada sei
julgo que todo o mundo mente.

Dá-me a ausência que precisares, amor,
nunca o silêncio.


SS

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Vem, amor,
contar-me a tua história
não a que já conheço
conta-me a de antes de eu existir em ti.


Fala-me das tuas alegrias
e das tristezas
do teus desejos de menino
e dos feitos de rapaz.

Mas conta-me
a olhar-me bem nos olhos
para que eu perceba tudo.
O brilho do teu olhar varia
entre o escuro do mar profundo
e o claro dos dias de sol
como uma mensagem cifrada
do teu modo de sentir ou de estar.

Vem amor,
senta-te aqui,
bem junto de mim
e leva-me a conhecer todo o teu mundo.


SS