Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 25 de maio de 2013

NORTADA



Definitivamente
hoje não é dia de irmos ver o mar.
Afasta a ideia do copo no bar do costume,
como gostamos de fazer nos fins de tarde,
em que esperamos que o poente nos envolva
no círculo fechado do embalar das ondas
que no seu pacato vai e vem
é um cenário idílico de som e de cor.

Hoje a nortada pintou o mar de verde,
um verde acinzentado,
polvilhado por centenas de flocos de espuma
assustando as gaivotas que, coitadas,
se recolheram em grupo, apinhadas
ao longo do paredão.

Mas porque não vamos ver o mar

não fiques triste.
Dá-me a mão,
fecha os olhos e deixa-te guiar.
À falta de um fim de tarde à beira-mar
Juntos faremos uma íntima celebração:
por praia, teremos a nossa cama
por ocaso, o pensamento que voa como o vento
e daí partiremos até onde o amor nos quiser levar.


SS

terça-feira, 21 de maio de 2013

TEMPO


O tempo cerca-nos
como um véu que nos envolve
e decide cada um dos nossos actos.
Mostra-se mas não se deixa prender
sentimo-lo como algo que nos ultrapassa
e que modela a vida que nos tocou viver.

Possuir o tempo não é fácil
é uma contínua busca ideada
que nos desgasta a cada segundo
ao deixar-nos sempre a sensação 

que por mais que o procuremos
dele o que resta é sempre o nada.

Possuir o tempo está muito além de nós.
Tal como sucede com a eternidade
sabemos que existe, que anda por aqui,
mas que nunca o atingiremos
porque mais que dimensão é divindade

SS