Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 16 de março de 2013




 
Estou cansada da palavra adeus. 
Lembra-me sempre partida

nunca chegada.

Arrasta com ela ausência

tristeza e saudade,

e nunca evoca presença.


Nunca se diz adeus num regresso
somente na despedida.
SS

quarta-feira, 13 de março de 2013


POEMA OCTOGÉSIMO

Frágeis como os ossos de um cristal,
os meus pensamentos aninham-se na noite
para construir o poema. A minha dor branca prefere
a luz que prenuncia a madrugada, luz bailarina
que me ilumina a pele molhada de alegria
sempre que faço em ti o trabalho doce da abelha
e me deito sobre o teu corpo para provar da vida
o melhor de todos os néctares, o mais completo
dos versos que o teu sangue me dá.  Continuo
a escrever-te com o meu corpo. Quero ganhar
o nobel da ternura 

Joaquim Pessoa

terça-feira, 12 de março de 2013





É saborosa esta espera para te falar
cada dia ao final da tarde.
Não é exactamente como esperar
veres-me à saída do comboio
com ar de quem vai apenas a passar
e por acaso, muito por acaso ,

levantares os olhos e
Oh! espanto!
dares comigo acabada de chegar.

Mas à falta de melhor
poder dizer-te olá
cada dia, ao final da tarde
dá para alimentar
esta excêntrica fome de te amar.


SS

segunda-feira, 11 de março de 2013



 

Chove

e na tarde que persiste

em copiar as dos dias anteriores

pergunto-me porque razão Deus insiste

em prolongar o inverno.


Será que no céu também a crise existe

e se acabaram os dias melhores?

 
SS