Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


terça-feira, 14 de outubro de 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Diferença

Numa conversa banal 
Descobri Afinal 
Que tive uma vida 
Antes de ti, 
Bem diferente, por sinal. 
 Já tinha visto o pôr-do-sol 
E o amanhecer 
Bem antes de te conhecer. 
Já rira e já chorara, 
Com ou sem razão
 E em muitos dias. 
Até já amara 
Sem saber que existias. 
 Esse trajecto 
De toda uma existência 
Foi um repto 
Uma espécie de sobrevivência 
Que me tornou diferente. A mulher que encontraste Acabou
 Quando lhe demonstraste 
Que, como numa equação, 
Há igualdade 
Entre duas identidades 
E que mais do que a força 
Quem nos guia É o coração. 

Soror S

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

IMAGINE

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

IMAGINA

Imagina que já é Primavera outra vez 
E que o sol, no horizonte, pinta sobre o mar 
Um poente feito do sumo das laranjas 
Que comemos enquanto assistíamos ao recolher das gaivotas. 
Fecha os teus braços num círculo bem apertado à volta dos meus ombros 
como se fossem um ninho
 e não me deixes voar. Soror S

terça-feira, 2 de setembro de 2008

PURIFICAÇÃO

A brisa 
trouxe-me o aroma maresia e da túnica que me cobria. 
Entrei na água 
Para me despir 
Do fogo 
Que aquela luz 
Acendera. 
Nadei seguindo uma linha 
Que não via 
Mas que acreditava 
Que me ia levar 
A um lugar do horizonte 
Onde recuperasse na minha nudez 
A veste branca perdida 
E o meu ser fosse devolvido 
à lua  a que pertenço 

Soror S


sábado, 30 de agosto de 2008

MOURIR D'AIMER - CHARLES AZNAVOUR

A nossa história não tem passado 
É apenas presente feito de espaços escondidos, 
de tempos cronometrados, de abraços furtivos. 
A nossa história não é uma historia de amor. 
É uma história de encontros/desencontros 
que tentamos agarrar entrelalando os dedos para que o momento não nos fuja. 
Por isso a nossa história está guardada na parte clandestina dos nossos corações, 
aquele lugar onde preservamos todos os nossos pecados e intimidades. 
É uma história de desejo apetecido 
Disfarçado em ternura. Soror S

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Have I told you lately that I love you

TEMPO

Dia a dia marquei no calendário O tempo da ausência. Enchi os meus dias de passeios pela praia para acompanhar o voo das gaivotas e sonhar que podia ir com elas levar-te os meus sonhos e desejos do tempo de regresso. Misturei os meus papéis de trabalho com as palavras do Aznavour e às vezes do Sinatra para não sentir os dias que passavam sem voltares. Mudei três vezes as rosas vermelhas da minha jarra e tu não chegaste a vê-las. Agora vou colorir o resto dos dias com a cor da esperança para que este novo tempo que falta seja um tempo breve e que as gaivotas me devolvam os meus sonhos e os desejos do tempo de regresso. Soror S

Back Home Again - John Denver

REGRESSO A CASA

Depois da ausência 
Sempre que regresso a casa 
Espera-me o cheiro bom 
Do meu quotidiano. 
Abertas as janelas 
Os objectos têm outra dimensão 
E afago-os 
Como se os tivesse perdido 
Para sempre 
Mas os tivesse reencontrado e com eles o lar. 
Por isso preciso de os tocar Para os sentir. 
São eles que me dão a certeza do regresso. 
 Em cada volta a casa Eu nasço outra vez

im

GOOD NIGHT SWEET HEART - QUE SAUDADES!!!

NOVO DIA

Após a chuva de ontem Nasceu de novo o sol. Um gato veio espreguiçar-se Languidamente na minha varanda. As gaivotas atravessaram o céu Por cima de casa E não gritaram Como nos últimos dias. Sentei-me no jardim E deixei-me envolver pela luz estival. Senti que agora estava tudo bem Que já não precisava de partir Para me afastar de ti E do teu desassossego. Deixei-me embalar pela brisa… A sombra da buganvília Criou estranhos arabescos no meu corpo. Um torpor estranho se apossou de mim E, quando acordei, Já o sol desaparecia devagar Para dar lugar à lua cheia outra vez. im

LUA CHEIA DE AGOSTO

Desperta, amor, O sol já brilha Se bem que a lua, Curiosa, Ainda se recuse a partir. Talvez por isso E porque me convidaste A partilhar a lua cheia de Agosto, Que ainda não chegou Apenas se adivinha No crescente desenhado no meu céu, Estejas nessa prostração. Desperta, amor Quero-te bem vivo. Espero o teu sorriso Ou melhor, as tuas gargalhadas Aquelas que me prometes-te Quando me achaste. Abre a janela, amor Deixa entrar o sol Não na casa, mas em ti. Deixa os seus raios Brincarem com o teu nariz Enquanto repousas no sofá. Desperta, amor. Abre o coração à vida, Recusa sair de cena E volta. Tens de saber separar o dia da noite. Só com essa certeza posso aceitar O teu convite Para partilhar a lua cheia de Agosto.

SOROR S

PARTIDA

Vou partir sem ti. Levo nos olhos uma imagem De dias em que o sol brilhava E em que todas as noites Havia uma lua cheia de Agosto. Então não sorria com os lábios Mas com o coração. Por isso o meu rosto Estava sempre iluminado E quem me olhava Sabia que eu era feliz. Parto sem ti Mas não só. Acompanham-me As ilusões vividas Transformadas em memórias. E quando estiver longe E o gosto do tempo For sempre igual É com elas que o vou temperar Para que a minha jornada Seja mais leve E me conduza a um lugar Onde eu possa nascer outra vez.
Soror S

MOONLIGHT SERENADE

QUANDO NOS ENCONTRARMOS

Quando nos encontrarmos, amor, Se mais não puder ser Dá-me um abraço Um abraço longo Muito longo E sem palavras. Nós não precisamos de palavras Para falar. Quando os teus braços me rodeiam Desenham um círculo Onde só cabemos nós E as saudades que nos unem. É como se mergulhasse Num mar imenso E vogasse lentamente sobre as ondas Até à praia onde está o teu olhar. Quando nos encontrarmos, amor Não quero mais nada Apenas abraçar-te ... Soror S

SUNSHINE ON MY SHOULDER

Entraste sem bater. Não te senti. Quando dei por ti estavas a meu lado... E ficaste. As tuas palavras encheram os meus ouvidos de coisas que o tempo me tirara e julgava ter esquecido. A mensagem de ternura que trouxeste encheu-me o coração e cresceu em amizade. Soror S

UM TEMPO NOVO

Sei que estou aqui Como já não estava há muito, Que não pertenço a ninguém, Que sou livre, completamente livre, Que tenho o mar só para mim, Que só eu vejo as estrelas E que a lua se esconde nos meus olhos. Em terra estranha Sou senhora de um tempo que não é o meu E que já não me lembrava que existia. Quando passo Sinto que deixo um rasto, já esquecido, De fêmea E não só de mulher Soror S

quarta-feira, 21 de maio de 2008

sábado, 10 de maio de 2008

Fado falado

quinta-feira, 1 de maio de 2008

AlL DI LÁ

LONGE DE TI

Longe para mim É quando sinto as gaivotas Voarem em direcção ao horizonte Que eu nunca alcançarei. Longe para mim É ver o bulício das folhas Que o vento afasta de mim E que nunca mais verei. Longe para mim É pensar Na imensidão do mar Que nunca atravessarei. Longe para mim É ver uma rosa No alto de um muro E que por isso nunca cortarei. Longe para mim É pensar em ti Como ave que emigra Perdida no bando que parte E que se volta… não sei… Escriva

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Capri c'est fini... mas que saudades

ILHA

Quero levar-te àquela ilha onde serás amado, onde serás aceito do jeito que és. Onde podes tirar a máscara e deixar esplender teu rosto. Onde minha ternura não se espantará com teu grão de loucura; onde minha paixão não diminuirá com tua parcela de medos; onde podes ser o que és, naturalmente, e mesmo assim farei de ti um rei. LYA LUFT

quarta-feira, 9 de abril de 2008

terça-feira, 8 de abril de 2008

Para acompanhar a poesia da Florbela

Se tu viesses

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, A essa hora dos mágicos cansaços, Quando a noite de manso se avizinha, E me prendesses toda nos teus braços... Quando me lembra: esse sabor que tinha a tua boca... o eco dos teus passos... O teu riso de fonte... os teus abraços... Os teus beijos... a tua mão na minha... Se tu viesses quando, linda e louca, Traça as linhas dulcíssimas dum beijo E é de seda vermelha e canta e ri E é como um cravo ao sol a minha boca... Quando os olhos se me cerram de desejo... E os meus braços se estendem para ti... Florbela Espanca

domingo, 6 de abril de 2008

Para iluminar mais o texto abaixo

MULHER

Não importa o quanto pesa. É fascinante tocar, abraçar e acariciar o corpo de uma mulher. Saber seu peso não nos proporciona nenhuma emoção. Não temos a menor ideia de qual seja seu manequim. Nossa avaliação é visual. Isso quer dizer, se tem forma de guitarra... Está bem. Não nos importa quanto medem em centímetros - é uma questão de proporções, não de medidas. As proporções ideais do corpo de uma mulher são: curvilíneas, cheiinhas, femininas.... Essa classe de corpo que, sem dúvida, se nota numa fracção de segundo. As magrinhas que desfilam nas passarelas seguem a tendência desenhada por estilistas que, diga-se de passagem, são todos gays e odeiam as mulheres e com elas competem. Suas modas são rectas e sem formas e agridem o corpo que eles odeiam porque não podem tê-los. Não há beleza mais irresistível na mulher do que a feminilidade e a doçura. Inventada para que as mulheres a usem. Usem! Para andar de cara lavada, basta a nossa. Os cabelos, quanto mais longos, melhor. Para andar com os cabelos curtos, bastam os nossos. As saias foram inventadas para mostrar suas magníficas pernas. Por que razão as cobrem com calças longas? Para que as confundam connosco? Uma onda é uma onda, as cadeiras são cadeiras e pronto. Se a natureza lhes deu estas formas curvilíneas, foi por alguma razão e eu reitero: nós gostamos assim. Ocultar essas formas é como ter o melhor sofá embalado no sótão. É essa a lei da natureza... Que todo aquele que se casa com uma modelo magra, anoréxica, bulímica e nervosa, logo procura uma amante cheiinha, simpática, tranquila e cheia de saúde. Entendam de uma vez! Tratem de agradar a nós e não a vocês. Porque nunca terão uma referência objectiva do quanto são lindas quando dita por uma mulher. Nenhuma mulher vai reconhecer jamais, diante de um homem, com sinceridade, que outra mulher é linda. As jovens são lindas... Mas as de 40 para cima são verdadeiros pratos fortes. Por tantas delas somos capazes de atravessar o Atlântico a nado. O corpo muda... Cresce. Não podem pensar, sem ficarem psicóticas, que podem entrar no mesmo vestido que usavam aos 18. Entretanto, uma mulher de 40, que entre na roupa que usou aos 18 anos ou tem problemas de desenvolvimento ou está se autodestruindo. Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida com equilíbrio e sabem controlar sua natural tendência a culpas. Ou seja, aquela que quando tem que comer, come com vontade (a dieta virá em Abril, não antes); quando tem que fazer dieta, faz dieta com vontade (não se saboreia e não sofre); quando tem que ter intimidade com o parceiro, tem com vontade; quando tem que comprar algo que goste, compra; quando tem que economizar, economiza. Algumas linhas no rosto, algumas cicatrizes no ventre, algumas marcas de estrias não lhes tiram a beleza. São feridas de guerra, testemunhas de que fizeram algo em suas vidas, não estiveram anos 'em formol' nem em spas... Viveram! O corpo da mulher é a prova de que Deus existe. É o sagrado recinto da gestação de todos os homens, onde foram alimentados, ninados, e nós, sem querer, as enchemos de estrias, de cesarianas e demais coisas que tiveram que acontecer para estarmos vivos. Cuidem-se! Amem-se! A beleza é tudo isto. Tudo junto! (Autor Desconhecido)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Madame Butterfly

DESPERTA-ME DE NOITE

Desperta-me de noite O teu desejo Na vaga dos teus dedos Com que vergas O sono em que me deito É rede a tua lingua Em sua teia É vicio as palavras Com que falas A trégua A entrega O disfarce E lembras os meus ombros Docemente Na dobra do lençol que desfazes Desperta-me de noite Com o teu corpo Tiras-me do sono Onde resvalo E eu pouco a pouco Vou repelindo a noite E tu dentro de mim Vais descobrindo vales. Maria Tereza Horta

quinta-feira, 3 de abril de 2008

SECÇÃO DE SUGESTÕES (destinada a bloggers que gostem de oferecer poesia ao mundo)

Quem já passou por essa vida e não viveu Pode ser mais, mas sabe menos do que eu Porque a vida só se dá pra quem se deu Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não Não há mal pior do que a descrença Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão ... Vinícius de Moraes

quarta-feira, 2 de abril de 2008

domingo, 30 de março de 2008

Para lá do mar mais profundo...

Quero-te para além das coisas justas

Quero-te para além das coisas justas e dos dias cheios de grandeza. A dor não tem significado quando ma roubam as árvores, as ágatas, as águas. O meu sol vem de dentro do teu corpo, a tua voz respira a minha voz. De quem são os ídolos, as culpas, as vírgulas dos beijos? Discuto esta noite apenas o pudor de preferir-te entre as coisas vivas. Joaquim Pessoa

sábado, 29 de março de 2008

Smile

Publicar poesia

Este não é o formato convencional
De editar poesia.
O normal é entregar esse trabalho
A uma tipografia
E fazer um investimento
De que normalmente
Se tira maior prazer
Do que rendimento.
 Esta, porém, é uma forma pessoal
De publicar os meus versos, (Será que são versos ou apenas reflexos ? Exactamente porque são meus
E demasiado privados
Faço-o de um modo
 Digamos que virtual
Porque no virtual também há poesia.

SS

sexta-feira, 28 de março de 2008

Chega de saudade

Poderia ser a minha apresentação

Sou Eu Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo, Espécie de acessório ou sobressalente próprio, Arredores irregulares da minha emoção sincera, Sou eu aqui em mim, sou eu. Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou. Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma. Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim. E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente, Como de um sonho formado sobre realidades mistas, De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico, Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima. E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua, Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda, De haver melhor em mim do que eu. Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa, Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores, De haver falhado tudo como tropeçar no capacho, De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas, De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida. Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica, Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar, De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo — A impressão de pão com manteiga e brinquedos De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina, De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela, Num ver chover com som lá fora E não as lágrimas mortas de custar a engolir. Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado, O emissário sem carta nem credenciais, O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro, A quem tinem as campainhas da cabeça Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima. Sou eu mesmo, a charada sincopada Que ninguém da roda decifra nos serões de província. Sou eu mesmo, que remédio! ...
(Álvaro de Campos)