Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 28 de abril de 2012

SOFÁ

Quando tenho saudades tuas

sento-me no sofá,
fecho os olhos
e deixo o tempo voar.
O sofá é o lugar da casa
mais aproximado a estar contigo:
largo, macio,
com braços acolhedores
que me envolvem como os teus.
Por vezes lembra um convite para passar para a cama.
Pena não falar. Apenas range.
E monólogos não dão para por em dia
as conversas que temos atrasadas.

Salvo esse pormenor
e outros que para aqui não interessam,
o sofá, meu amor,
é o lugar da casa
mais aproximado a estar contigo.
SS

sexta-feira, 27 de abril de 2012

CONVERSA


Amanhã
ou noutro qualquer  dia
em que nos reencontrarmos
continuaremos a conversa inacabada de ontem
mesmo que o ontem já tenha alguns anos.
GM

quinta-feira, 26 de abril de 2012


 Gostaria de dominar as palavras
para as poder misturar
e fazer delas poemas
que fugissem às imagens repetidas
de cruzar o céu com o mar
só por causa do azul,

(tendo ele outras mais cores);
de falar sempre de amor

em rimas que acabam em "ão",
por causa do coração,
esquecendo que na alma e na cabeça
é que o amor sempre começa…

Contudo,
sem saber dominar as palavras
para as poder misturar,
vou tentar na mesma
escrever poemas
somando emoções e fantasia
com um q.b. de melodia.
GM

quarta-feira, 25 de abril de 2012

SAUDADE


A nossa saudade
Nasceu como a força de um rio
Que despontou pequenino, num borbulhar de natureza,
E foi crescendo
Rasgando obstáculos para traçar o seu percurso:
Ultrapassou açudes,
Alagou margens,
Gerou vida,
Matou muita sede
E, finalmente,
Reuniu-se com o mar
Diluindo-se na maré…
Tal como fazem os nossos olhos
Depois do amor.

SS


segunda-feira, 23 de abril de 2012

GÊNESIS PARTICULAR


E ao sétimo dia Deus deixou de criar.
Não por cansaço
Ou por  a obra parecer completa,
Mas porque descobriu que era domingo.

GM

domingo, 22 de abril de 2012


Da minha varanda não vejo o mar
mas adivinho-o
no cheiro da maresia
no rumor salgado que me chega do poente
no gritar e no voo das gaivotas.

Da minha varanda não vejo o mar
mas sinto-o dentro de mim
porque na sua imensidão aprendi o infinito
e nele tracei as minhas próprias rotas.
SS