Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


quinta-feira, 14 de maio de 2009

SAUDADES DO MAR

Hoje eu fui ver o mar Há quanto tempo eu não o via! Há tanto Que quando caminhava Tive receio de já não o reconhecer. Mas fui, A medo Pensando que ele iria estar diferente Ou até já não existisse Claro que esta última premissa era falsa. Se eu existo é porque estou na terra E a terra para ser terra Tem de ter o mar. Não me aproximei. Vi-o de longe Para que ele não me visse a mim. Como o mar deve estar zangado comigo Julgando que eu o esqueci! À distância a que fiquei Via-o, mas não o sentia Talvez porque era maré baixa E ele, calmo, Vinha morrer silencioso Espraiando-se na areia. A minha ânsia dele Pedia um mar agitado, A saltar o esporão Derramando a espuma nas rochas E apagando com o estrondo Da queda da água O grasnar rouco das gaivotas. O que respeito no mar E mo faz amar É a sua força telúrica. Hoje finalmente eu fui de novo ver o mar Mas não matei as saudades Porque se sumira de mim. IL