Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 2 de abril de 2011

SILÊNCIO

Gosto das palavras
Que troco e destroco
Com quem me cruzo,
Mas para a minha paz funcionar
É o silêncio o que mais uso.
Mergulho nele
E deixo-me levar
Como ave empurrada pelo vento
E sem saber onde vai parar.
Definitivamente
No som do silêncio
Concebi o meu espaço
E encontrei o meu alento
SS

sexta-feira, 1 de abril de 2011

DIZEM QUE FINJO OU MINTO

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é,
Sentir, sinta quem lê!
Fernando Pessoa

quinta-feira, 31 de março de 2011

ASPIRAÇÃO

Não há meio de parar
Esta morrinha que a primavera teima
Em misturar
Com dias de verdadeiro verão.
Suspiro por manhãs soalheiras,
Tardes sem vento
Que atraiam sonhos invulgares
E um irresistível empenho de te amar
SS

quarta-feira, 30 de março de 2011

PREGUIÇAR

Desfio os dias
Como contas de um rosário
Uns com mais fé e devoção
Outros, confesso, com alguma distracção
Em que me prendo mais à mosca que passa
Do que às tarefas que devo cumprir.
Mas quando há sol
Céu azul
E muito amor
Será que preguiçar um pouco
É um grande pecado, Senhor?
SS

terça-feira, 29 de março de 2011

O TEMPO

O tempo não vale
Pelo que dura
Mas pela forma de o viver.
Trinta segundos nunca são iguais:
Podem voar sem serem sentidos
Podem arrastar-se e parecer eternos
Isso depende somente
Da forma de os preencher.
SS

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sinto-me presa
Cercada por olhares desconfiados
E ouvidos que ouvem o que não digo
As minhas atitudes são-me apontadas
Como formas de atrair uma atenção
Que não incito nem persigo.
Pobre de todos que se dedicam
A analisar os outros pelo inexistente
Esquecendo-se que a crítica desmedida
É sintoma de doença da sua própria mente
SS