Uma irreverência entre a memória e a saudade
Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...
segunda-feira, 28 de abril de 2014
domingo, 27 de abril de 2014
PARTIDAS DA PRIMAVERA
Esta primavera
tem sido estranha.
Dizem os mais antigos
que no Outono
e no inverno
com o “cair da folha”
a morte chega mais vezes.
E por tanto a repetirmos
a frase tornou-se tão banal
que por vezes já pensamos
que morrer em outras estações
não é normal.
Que dizer pois desta primavera distraída
que sem o entendermos
nos tem surpreendido todos os dias
com mais uma nova e brusca despedida?
SS
tem sido estranha.
Dizem os mais antigos
que no Outono
e no inverno
com o “cair da folha”
a morte chega mais vezes.
E por tanto a repetirmos
a frase tornou-se tão banal
que por vezes já pensamos
que morrer em outras estações
não é normal.
Que dizer pois desta primavera distraída
que sem o entendermos
nos tem surpreendido todos os dias
com mais uma nova e brusca despedida?
SS
CARTA A VASCO GRAÇA MOURA / 27-4-2014
Para o Vasco Graça Moura
De Matosinhos já partiras há muito. Ficaram para trás as idas para o liceu de eléctrico e foste para Lisboa estudar. Por cá ficou-te a família e a namorada, minha amiga, com quem casaste e tiveste os teus filhos, Vasco e Gonçalo, até que o teu coração te levou para outro amor, diferente do primeiro. Os nossos filhos cresceram por perto. Matosinhos era uma vila onde toda a gente se conhecia. Por isso pudemos seguir ao longe, mas muito de perto, a trajectória do que foi a tua vida sobretudo depois do divórcio. Julgo que saberás que a Nani sempre te amou e te esperou ainda muito tempo. Só que não cabia já na vida que escolheste, partilhada entre a advocacia, a política e a literatura. Contudo foste o seu grande amor. Disse-mo ela numa noite, num país longínquo, sentadas as duas numa praia infinita de areias quentes, esperando que a lua chegasse até nós para irmos nadar à sua luz. Ela também refez a sua vida com alguém que a amava e ama muito e lhe deu a atenção que ela já não sente, mas precisa, neste seu peregrinar pela doença. Julgo que não faltará muito para vocês se reencontrarem. Então acertarão as contas da vossa vida em comum.
Mas como a vida é uma caixa de surpresas, se te perdi então, acabei por te recuperar através dos teus netos, os filhos gémeos do Vasco e da Patrícia, que são sobrinhos do namorado de uma das minhas netas e um dia me apareceram cá em casa para almoçar. E gostaram da ideia de eu conhecer os avós. Tantas perguntas que eles me fizeram! Dessa conversa surgiu a ideia do Gonçalo fazer uma quadra para te levar. E fê-la. E levou-ta para o fim de semana em Almeirim. Nesse momento, sem te ver, através deles, voltaste de novo à minha vida pessoal. Como diria a minha mãe, sábia dos anos vividos, a vida tem sempre um recomeço. Tal como a amizade.
Obrigada pelo que fizeste pela nossa língua. Obrigada pelos teus textos e poemas. Obrigada pelo teu desacordo sobre o triste acordo que rebaixa a nobreza e a pureza do nosso português nascido lá longe, há muitos séculos, e que é uma referência mundial - a 5ª língua mais falada. Obrigada por teres sido algum tempo um dos nossos desta terra de praia, mar azul e muitas nortadas. Obrigada por teres conseguido ser igual a ti próprio até ao fim.
Até um dia, Vasco. Fica em paz. E, se tiveres oportunidade ,escreve mais umas coisinhas. Quando nos reencontrarmos vamos ter muito que conversar sobre o tempo perdido.
Isabel Lago
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