Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


quinta-feira, 19 de março de 2009

MONÓLOGO PESSOAL

Quantos tempos tivemos Neste tempo? O meu… O teu… O nosso… Tempos Que se cruzaram No tempo colectivo Daqueles que nos conheciam E dos que nem imaginavam Que nós existíamos Mesmo vendo-nos passar. Era um tempo cheio De diálogo Feito de palavras De ideias E de olhares partilhados. O tempo que chegou agora Levou com ele o nosso tempo. Esvaziou as palavras As ideias E os olhares E encheu o diálogo Com tempos de solidão
SS

quarta-feira, 18 de março de 2009

AUSÊNCIA

Sentir a ausência 
 É notar o vazio deixado 
 Pelos pequenos nadas que faziam o nosso tempo. 
 Eram exactamente isso, pequenos nadas: 
 Um toque mesmo que casual de mãos, 
 Um golo bebido de copo alheio 
 Um elogio a um menu escolhido 
 Uma crítica monossilábica ao ambiente 
 Uma troca de olhares que só nos víamos 
 Mas onde cabia um pequeno mundo – o nosso. 
 Por isso a ausência me deixou sem chão. 
 A leitura solitária perdeu a riqueza do debate 
 E com ele foram-se os temas e as palavras 
 Que aquecíamos com fúria e com ternura. 
Apesar de vestidos ficámos nus 
 De ideias, que não de sentimentos. 
 Hoje, a esta distância que nos separa, 
 De que poderemos falar 
 Senão deste Verão antecipado? 

 Soror Saudade