Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sábado, 21 de julho de 2012

PARTIR


Não são minhas as palavras que desenho
e muito menos o é o seu desenrolar
brotam da vida, de cada um do seus momentos
e narram histórias de quem não as quer contar.
Servem por isso a cada alguém que as leia
e que as fará suas ou as cederá
a quem se sinta nelas identificado.

O meu lugar aqui é apenas dar a voz
a quem tem medo de exprimir
o seu desejo insustentável de amar


Esta é a toda a minha bagagem..
Depois…
é só fazer as malas
e partir…


SS

sexta-feira, 20 de julho de 2012

António Carneiro -Sinfonia azul


Inexpresssivo é o rosto do modelo
tal como a atitude
e nada o destaca do fundo da pintura.
A luz está lá
apenas para que se notem as sombras
que nada acrescentam ou tiram
à obra final.

Uma pintura deve ser uma sinfonia
de sons, de cores, de movimentos, emoções.
Esta não transmite nada disto.
O azul mais parece cinza
que é a cor adequada
para um tema sem assunto.
E olhando bem
O que nos transmite ela ? Nada.

Se eu fosse o autor
tê-la-ia denominado
simplesmente

“Mulher sentada”

 SS

quinta-feira, 19 de julho de 2012


Hoje
entrançarei o meu cabelo
com o sol
e o brilho das estrelas
que restou da noite.
Enfeitá-lo-ei
com algas coloridas
que prenderão as conchas
apanhadas no areal ao amanhecer.

Vestir-me-ei de mar
num longo vestido verde
debruado a espuma
que arrastarei pela areia
para que ela lhe sirva de bainha.

E ao entardecer,
quando o último barco sair para a faina
e na praia só houver gaivotas,

deitar-me-ei na beira-mar
porque é aí o lugar do nosso encontro.

Nesse leito sem fim do oceano
teremos como lençol apenas o meu vestido,
a que o poente terá dado já uma nova cor.
E cada movimento da maré
será a única testemunha
dos beijos
dos abraços, 

do nosso amor…

SS

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Valer
vale a vida pelo que tem de bom
e no-lo distribui sem que peçamos nada. 

E por mais cru que pareça
até perder é bom
quando revelador das nossas fraquezas
de uma forma adequada.

Sei o que valho
e lamento quando falho.
Ambos os momentos me ajudam a avaliar
o que quero ser e como devo actuar.

Por isso amor, se gostas de me ter a teu lado,
empurra-me se achas que siga em frente
ou trava-me o ímpeto para eu não errar.


SS

terça-feira, 17 de julho de 2012



Gostaria de te escrever palavras belas
daquelas que dizem tudo
parecendo nada expressar de singular.
Misturam-se com cores e emoções
numa sinfonia especial
que só entende quem ama.

Mas hoje estou cansada,
dispersa e meio alheada.
Só me apetece dormir e sonhar.
Não sei se é fruto do calor estival
ou deste eterno esperar.

Não será certamente de te amar.


SS

segunda-feira, 16 de julho de 2012

CURIOSIDADE FEMININA

Quisera saber do teu quotidiano
momentos que nunca conheci
nem me contaste:
quando te levantas,
e a que hora te deitas.
Se um bocejo te avisa
que o sono está a chegar
e pões marcas no livro
que fechas antes de apagar a luz
e adormecer
ou o deixas cair em silêncio ao chão.
Se dormes enrolado em ti próprio
ou bem esticado nos lençóis.
Se acordas e te espreguiças
ou vais acordando…
E qual o teu primeiro afazer do dia ?

Pensarás: que curiosa,
intrometida, embirrenta até!
Para que quer ela tudo saber?

Tens razão!
Pareço estranha!
Só que como nunca vivemos juntos
um dia inteiro
de ti só sei uma metade.


Falta-me a outra para te conhecer.


SS

domingo, 15 de julho de 2012

De que valem as palavras que te escrevo
e as cores e os sons com que as embrulho?
De que vale falar-te do meu dia a dia
e de toda a solidão em que o mergulho?
De que vale explicar-te tantas vezes
que sou aquilo que de mim fizeste
e que sou feliz só com um abraço?

Se não me ouves amor é porque não valho a pena
e fui apenas um acaso que caiu no teu regaço .


SS