Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Dormir contigo


Ah! Dormir contigo
Nesse ninho dos teus braços
E acordar depois
Devagarinho
Com o corpo saciado
Dos teus beijos e abraços.

GM

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

SOU CONCHA

CONCHA

Sou concha
que o mar trouxe lá do fundo
e esqueceu por distração no areal.

Ninguém deu por mim.
Nem tu 

a quem eu vinha destinada.

Envolvida pela areia
e com tão pequeno formato
nem te apercebeste que nela estava guardado
um recado especial para ti.

Que pena não me teres encontrado…


quarta-feira, 5 de setembro de 2018

CARÍCIA



Passo-te a mão pelo cabelo
Numa carícia leve
Para que não a sintas.
Não aprecias, eu sei, 
Mas vou insistindo.
Pode ser que um dia
Se dê um milagre
E digas que gostas
Ainda que mintas.


GM



Cúmplice de ti

Nos pensamentos e nos momentos

Que partilhamos

Cúmplice de ti

Mesmo à distância

Quando o tempo se mede em saudade

Cúmplice de ti

Em tudo que sentimos e que somos

Porque este amor sonhado a dois

Desabrochou em unidade.


GM


terça-feira, 4 de setembro de 2018


Não meço o tempo quando não estás
porque é um tempo longo
penoso
difícil de passar
um tempo de espera
que desconheço quando vai terminar.

Não conto o tempo quando tu estás
porque é um tempo tão curto
tão leve
tão feliz
tão cheio de ti
que receio que ele se vá dissipar
só porque  eu o estou a contar.
IM

segunda-feira, 3 de setembro de 2018


TARDE

Hoje a minha tarde
Brilhou com as cores do arco-íris.
O azul do céu cobriu a minha cama,
Misturou-se com o violeta
E a colcha renasceu em anil.
O verde embrulhou-me em esperança,
O vermelho abraçou-se ao amarelo
E os teu beijos de repente
Entornaram sobre mim
O fio dourado do sumo de uma laranja.

SS

sexta-feira, 31 de agosto de 2018


Não me afagues.
Dá-me antes as tuas mãos.
Eu tomo-as entre as minhas
E tudo o que sentimos
Vai ficar dentro de nós.
E não me fales.
As palavras são sons
Que se escapam
E não voltam. 
As mãos são o nosso corpo
E sente-se nelas
O calor do coração.
Por isso não me afagues
Dá-me só as tuas mãos.

SS

quinta-feira, 30 de agosto de 2018


20.6,2012
Não meço o tempo quando não estás
porque é um tempo longo
penoso
difícil de passar
um tempo de espera
que desconheço quando vai terminar.

Não conto o tempo quando tu estás
porque é um tempo tão curto
tão leve
tão feliz
tão cheio de ti
que receio que ele se vá dissipar
só porque  eu o estou a contar.

SS

MEDIR O TEMPO


MEDIR O TEMPO
Não meço o tempo quando não estás
porque é um tempo longo
penoso
difícil de passar
um tempo de espera
que desconheço quando vai terminar.

Não conto o tempo quando tu estás
porque é um tempo tão curto
tão leve
tão feliz
tão cheio de ti
que receio que ele se vá dissipar
só porque  eu o estou a contar.

SS

terça-feira, 28 de agosto de 2018

ANJO LIBERTINO



O amor é novo todos os dias.
Anjo libertino
nada o impede de aparecer
e vir-me desafiar
para eu brincar com ele.
Nunca resisto às suas traquinices
e deixo-me arrastar
por tudo quanto ele me propõe e faz.

Cada pessoa tem um anjo destes em si.
Tu és o meu.
Será que sou capaz
De me tornar também num anjo destes para ti?

GM


sábado, 25 de agosto de 2018



Quando nos encontrarmos, amor,
 Se mais não puder ser
Dá-me um abraço
Um abraço longo
Muito longo
E sem palavras.
Nós não precisamos de palavras
Para falar.
Quando os teus braços me rodeiam
Desenham um círculo
Onde só cabemos nós
E as saudades que nos unem.
É como se mergulhasse
Num mar imenso
E vogasse lentamente sobre as ondas
Até à praia onde está o teu olhar.
Quando nos encontrarmos, amor
Não quero mais nada
Apenas abraçar ... Soror S

domingo, 19 de agosto de 2018

LETRA PARA UM FADO



Perdeu-se o meu coração
Nesse teu olhar sem fim
Agora só sei viver
Quando olhas para mim.

Se não o fazes eu morro
De paixão ou de tristeza
Tristeza se não me queres
Paixão se vejo frieza.

Fita-me bem meu amor
Deixa falar teu olhar
E prova ao meu coração
Que só a mim queres amar.

IL  (EM 2015)

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

APETECIA-ME

Apetecia-me que me contasses uma história
Comigo enrolada nos teus braços
Para que o teu olhar, preso no meu,
Me fosse guiando pelos percursos
Que fiz a teu lado
No tempo que percorrermos o mundo par a par
num percurso, desenhado à distância,
forma distinta dos do resto das gentes
porque era plenamente nosso.
Por tudo isso, ele foi tão real.
Nós os dois nunca nos limitaríamos a viajar
Mesmo ao “faz de conta”
traçando apenas um esboço .

SS

quarta-feira, 15 de agosto de 2018



GUARDO-TE EM MIM

Guardo-te em mim
Como se fosses uma pele nova
Que vesti
Sobre aquela com que nasci.
Uso-te em tudo o que toco
E em tudo quanto faço.
A minha vida desenrola-se
somente em ti e para ti.
Penso-te como um espaço
Onde um dia apareci
Não para o mundo lá fora
Mas apenas para ti.

SS


sábado, 11 de agosto de 2018


DERRADEIRO POENTE


É pena, amor,
Mas chegaste tarde.
Vieste na ponta do último raio de sol
De um derradeiro poente.
Não o fizeste de propósito
Acho que foi apenas
Porque não sabias o caminho até mim.
Não peças perdão.
Acredito que demoraste
Porque a viagem foi longa no tempo
E me querias trazer um presente
Que julgavas o mais indicado
Para alguém que não conhecias,
Mas cuja existência intuías
E querias encontrar
Para te descobrires a ti próprio.
E que certa foi a escolha!
Para alguém que vivia
Na sombra dos desafectos
Nada como o que trouxeste:
A luz desse teu sorriso.
Mal me olhaste, eu brilhei
E entendi de repente
Que apesar de tantas trevas
A vida tem um sentido.
Pena ter acontecido
No último raio de sol
De um derradeiro poente

GAIVOTA MELANCÓLICA


quinta-feira, 9 de agosto de 2018


DESFIAR A TARDE

Desfiei a tarde
em pequenos pedaços
de minutos e  segundos
e esperei misturá-los 
com a tua voz.
Apenas me respondeu o silêncio
E o vento que soprava lá fora.
Com as folhas caídas que espalhou
Arrastou o nada que sobrou de nós.

GM



Aquella mañana,
Entre los pinares y la umbría
Por senderos y rutas
Donde adivinábamos el Lima
Y descansábamos nuestros ojos
Sobre el azul del mar,
Oyendo el silencio que nos cubría 
O buscando los pájaros que nos miraban,
Aquella mañana,
Perdidos del mundo,
Tan solos
Todavía tan acompañados,
Aquella mañana te quise tanto.

IL

quarta-feira, 8 de agosto de 2018


QUISERA DESCANSAR  NO TEU ABRAÇO
ao cair da tarde
quando a luz nos incendeia,
antes de vermos nascer estrelas
ou termos a lua só para nós como candeia.
O cair da tarde é o nosso tempo,
o nosso espaço,
a terra prometida,
o paraíso,
o lugar onde o cansaço
existe apenas porque em nós existe vida.
É porque essa vida dentro de nós arde
que eu quisera descansar no teu abraço
um dia destes, um qualquer,
não me interessa,
desde que aconteça sempre ao cair da tarde.
GM

quarta-feira, 1 de agosto de 2018


VENTO SUÃO


Chegaste sem avisar
Até talvez sorrindo
Daquele modo especial
De quem vem para surpreender.
Enganaste-te porém.
Uma mulher lê nos astros
E o seu coração tem faro.
Sabia que vinhas a caminho
Porque já sentira o teu cheiro
Trazido pelo vento
Que, soprando até então do norte,
virara num repente a suão.


SS

terça-feira, 31 de julho de 2018



Esta mañana

Había una alfombra de gaviotas en la orilla dorada del mar.
Esta mañana había plateadas barcas de pesca pero no había olas.
Esta mañana entraba en el puerto
Un buque grande de cruceros
De los que hacen soñar con paisajes exóticos
y amor en noches de luna llena.

Pero esta mañana no había veleros
como aquel en que nos gustaría
surcar las rias gallegas,
escuchar el silencio,
darnos las manos
y querernos mucho.

Soror Saudade


segunda-feira, 30 de julho de 2018


               PERDI O HÁBITO DE TI


Perdi o hábito de ti.
A ausência
Preencheu o teu lugar
Com inseguranças
Incertezas
E saudades.
Já não sei a cor do teu olhar
E silenciei a memória
Da tua voz.
Por isso
Vivo em confusão
No meio das gentes
E não te encontro
Porque não sei procurar-te.

Busca-me tu
Para que não te perca.
Tira-me desta sombra
Em que me fecho.
Não deixes que me leve
O esquecimento.

GM

sexta-feira, 27 de julho de 2018

EMPURREI O AMOR...

Empurrei o amor para dentro do poema
Para que ele copiasse
A forma, o ritmo e o nexo 
Que o poema tem.


Foi uma tarefa impossível, porém.
O amor não é matéria
Logo não se adapta
À forma das letras 
E muito menos cabe nas palavras
Que a métrica exige.

Tentei dar-lhe ritmo
Só que como o amor é surdo
Não respeita cadência nem padrão.

E dar-lhe nexo foi fatal
Porque ávido como é
Se dispersa em rumos diversos
Conforme melhor lhe convém
Ou mais lhe agradam os versos.

Convenci-me então
Que era impossível 
Arrumar o amor num poema.
Assim, para evitar que se perdesse por aí
Ou se metesse em algum problema
Peguei nele, afaguei-o
E com cuidado
Guardei-o de novo 
no meu coração


GM

quinta-feira, 26 de julho de 2018



TEMPO

O nosso tempo escoou-se nas palavras
nos gestos
nas carícias
nos olhares…
E a emoção de estarmos juntos 
E novamente abraçados
Perpassou pelo ar
Como fumo de cigarros
Nervosamente fumados.
SS

quarta-feira, 25 de julho de 2018


EU


Procuro-te
nas pequenas coisas do dia a dia,
no que fiz e no que deixei de fazer,
em cada manhã que se abre em rosa
e em cada tarde que se fecha em azul marinho,
ao anoitecer.

Procuro-te como sou
nos sítios em que imagino estar,
mas onde afinal não estou.

Procuro-te no tempo que sinto passar
e naquele que espero há-de vir,
mas nunca sinto chegar.

Procuro-te no longe e no perto
no que conheço e no que desconheço,
no princípio do tempo e no seu fim.

A minha vida é toda uma procura
que só terminará quando te tiver
todo por inteiro ajustado a mim.

SS

terça-feira, 24 de julho de 2018


NÓS QUANDO ESTAMOS SÓS


A sós
como duas gaivotas
na solidão do céu,
em pleno mar,
sonhando no ar...

A sós,
lado a lado, sem alarde,
como dois pássaros num alto ramo,
ao cair da tarde...

A sós
como duas mãos quando se procuram
e se encontram,
sem voz...

Como eu e tu
quando somos nós
a sós...

GM

segunda-feira, 23 de julho de 2018



Prometeste vir encontrar-me
num cruzamento de estradas.
É certo que não disseste o dia,
referiste umas datas possíveis ao acaso,
as que julgavas mais convenientes.
Mas o mês vai já quase na metade
e não me chegam sinais da tua decisão.
A cada dia espero que cumpras a promessa
e me digas quando nos vamos encontrar.
Se não vieres, esconde-me a verdade
da razão dessa promessa falhada.
Alega que não vieste por causa do trabalho,
não suportaria que fosse por falta de vontade.

SS 


Hoje


Hoje sonhei-te
emaranhado em todo o meu dia
nas pequenas coisas que fui fazendo
nos pensamentos que fui tendo
nos passos que fui caminhando

nas conversas que estabeleci.

Hoje o meu dia
foi todo inteiro para ti.

 
SS

terça-feira, 3 de julho de 2018



Soam-me as tuas palavras ao ouvido
num eco que vem de longe.
Não as percebo. 
Intuo-as.
Embora parcas,
sei que gostas de mas dizer
mesmo quando não falas
apenas as pensas,
e eu tenho de as adivinhar
no rasto do teu olhar.

GM


quinta-feira, 14 de junho de 2018

SOL

Lá fora há sol
E corre uma brisa solitária
Que quebra o calor
Nesta tarde de um verão tão esperado.
Foi longo o inverno
E isso afastou ainda mais
Quem já estava separado.
Aproveitemos  o tempo novo
Para  enchermos o espaço
Deixado pela solidão
De todo um tempo perdido.
Recobremos o sabor
Dos nossos dias de amor.

GM

terça-feira, 12 de junho de 2018

NORTADA


Definitivamente
hoje não é dia de irmos ver o mar.
Afasta a ideia do copo no bar do costume,
como gostamos de fazer nos fins de tarde,
em que esperamos que o poente nos envolva
no círculo fechado do embalar das ondas
que no seu pacato vai e vem
é um cenário idílico de som e de cor.

Hoje a nortada pintou o mar de verde,
um verde acinzentado,
polvilhado por centenas de flocos de espuma
assustando as gaivotas que, coitadas,
se recolheram em grupo, apinhadas
ao longo do paredão.

Mas porque não vamos ver o mar
não fiques triste.
Dá-me a mão,
fecha os olhos e deixa-te guiar.
À falta de um fim de tarde à beira-mar
Juntos faremos uma íntima celebração:
por praia, teremos a nossa cama
por ocaso, o pensamento que voa como o vento
e daí partiremos até onde o amor nos quiser levar.

domingo, 10 de junho de 2018

quarta-feira, 6 de junho de 2018

AVISO


ATRASO

A coisa não muda a cada noite.
É sempre igual.
Espero-te e tu chegas atrasado
Com o aspecto meio desleixado
De quem vem a correr
Para cumprir um dever…
Não venhas, se já não me queres.
Dessa forma atrapalhada
Não suportaria ter-te a meu lado.

GM


quinta-feira, 24 de maio de 2018

POEMA SEM RIMA MAS COM SAUDADE




Com Maio chegava o Senhor de Matosinhos.
Era a hora de nos reunirmos todos
Para irmos para a folia
Às escondidas dos pais.
Trocava-se a escola
Pela corrida entre carrocéis
A roda gigante
As cestas
E os carrinhos de choque.
Chupávamos os pirolitos,
Os sorvetes
E trincávamos as nuvens de açúcar
circulando em corridas desenfreadas
por entre as barracas das louceiras
 que nos insultavam e enxotavam.
Que modos tão diferentes
Daqueles com que nos tratavam
Nas semanas a seguir
Quando íamos com os pais
Para comprar os bonecos para a cascata

Saudades dessa romaria tão longe no tempo.

Na loja do meu pai, na “Sultana”
Na semana anterior
Afluíam as “binas” (assim chamávamos às lavradeiras)
A comprarem luvas
Elemento fundamental
Para se esconderem as mão calejadas
Quando, no dia da festa,
Se praticava, nas traseiras das capelas do adro,
O namoro à “carreira”
Momento fundamental
Para eles e para elas
Compararem  os seus bens patrimoniais
Que para o caso interessava mais
 Que a beleza dos parceiros.
E assim se casou muita gente.!

À noite era a ida com os pais
Sobretudo na noite do fogo
Depois de comidas as farturas.
A cada foguete era um “ah” imenso
Que rebentava com eles…
E às vezes uma fuga às canas que caíam fora do lugar

No domingo, depois das bandas,
Visitavam-se as flores
Que enchiam toda a igreja.
E na semana seguinte
No mercado ou na lota
 Discutiam as mulheres
A beleza dos altares.

Saudades desse Senhor de Matosinhos
Bem naif por sinal
Mas que nos ocupava todos
E nos fazia esquecer
Que os dias que se seguiam
Eram de escola a valer.
…..
IL


 2018