Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

ETERNIDADE

Sigo-te
no voo dos pássaros
que fizeram ninho no meu jardim.
Imagino-te
no rasto do avião
que passou agora sobre mim.
Procuro-te
em cada rua que passo
neste meu vadiar sem-fim.

Mas nunca te tenho.

De ti só me chega
o aroma amargo da saudade.
Conservo a esperança
que nos encontremos
no caminho que nos levará até à  eternidade.

SS




quinta-feira, 28 de agosto de 2014

PENÉLOPE

É a hora da partida,
de fazer com a saudade o tear
em que tecerei o tempo que há-de vir.
Cada dia 
será um novo fio da teia
que me liga à esperança da chegada
e que, a cada noite,
desfarei
para renovar a ilusão
que me alimenta o sonho
do nosso reencontro em Ítaca.

(Seja lá Ítaca onde for)

SS

ENCONTRO

PROCURA

Procuraste-me
durante um tempo em que tu eras só tu
e eu apenas eu.
Um dia ousaste avançar
para outro lado do mundo,
afrontando o cansaço
ou o medo.
Aí me encontraste
e eu acolhi-te.
Passámos então a ser nós.

Que pena, amor, não teres chegado até mim
Um pouco mais cedo.


SS

terça-feira, 26 de agosto de 2014

OUTRO TEMPO

Houve um tempo
em que não havia espaços vazios
entre nós.
Os nossos pensamentos
corriam como rios
para encontrarem o outro
em qualquer margem,
cruzavam o ar
montados em pássaros
ou levados pela aragem.
E, mesmo à distância,
sem sabermos um do outro
sempre fomos capazes de nos encontrar.

Tudo mudou.
Os espaços estão vazios.
Esquecemos as rotas das viagens
e  até já não sabemos de nós.
O tal tempo que houve,
e que foi sempre só dos dois,
converteu-se num outro. 
sem sinais nem referências,
e que, ao contrário do primeiro,
é um tempo de estarmos sós.

SS