Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


terça-feira, 26 de agosto de 2014

OUTRO TEMPO

Houve um tempo
em que não havia espaços vazios
entre nós.
Os nossos pensamentos
corriam como rios
para encontrarem o outro
em qualquer margem,
cruzavam o ar
montados em pássaros
ou levados pela aragem.
E, mesmo à distância,
sem sabermos um do outro
sempre fomos capazes de nos encontrar.

Tudo mudou.
Os espaços estão vazios.
Esquecemos as rotas das viagens
e  até já não sabemos de nós.
O tal tempo que houve,
e que foi sempre só dos dois,
converteu-se num outro. 
sem sinais nem referências,
e que, ao contrário do primeiro,
é um tempo de estarmos sós.

SS


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