Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Estarei longe 
quando as minhas palavras te forem encontrar.
levam com elas o cheiro dos vinhedos,
o verde da folhagem,
as palavras de Torga
e a dureza do granito.

Coisas que vejo da minha janela
e que compartilho contigo
porque só te falo
daquilo em que acredito.


SS

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Lembras-te
das manhãs em que não acordámos juntos,
das tardes em que não nos encontrámos,
das noites em que não vimos as estrelas de mãos dadas?

Lembras-te
dos silêncios partilhados na distância
das palavras que proferidas nunca ouvimos
dos beijos desejados que não demos?

Tantos momentos perdidos!
Tanto que ficou por dizer!
Mas foi nesses silêncios escondidos
nessa impossibilidade de nos vemos
Que cresceu a nossa força de querer



SS

quarta-feira, 4 de julho de 2012

DESENCONTRO

O desencontro
não é mais do que o encontro
de não te encontrar. 

Nunca te perdi
porque nunca te achei
Tu procuraste
e tu me encontraste.

E quando te encontro
entre os desencontros
guardo-te em mim
para evitar
que o tempo de encontro
se deixe anular
pelos desencontros.


Porque o desencontro
não é mais do que o encontro
de não te encontrar.

SS

terça-feira, 3 de julho de 2012

CONVERSAS

Quando falamos cara a cara
as nossas palavras embrulham-se

e muitas vezes
acabámos perdidos nas conversas.

Isto quando não dizemos os dois o mesmo
mas de modo diferente.

Parecemos um novelo mal dobado
que se rompe à medida que o fazemos
e vai soltando as pontas desgarradas

que nunca atámos
porque não temos tempo de as agarrar.

Mas um dia há-de chegar
em que vamos ter
todo o tempo e todas as palavras
para concluirmos todas as conversas
e dobarmos finalmente o tal novelo
que começámos e não conseguimos acabar.


SS

segunda-feira, 2 de julho de 2012

BUSCA/PROCURA

É tua a busca, mas minha a procura.
Buscar é o teu ponto de partida.
Encontrar será o meu de chegada.


Quando a tua busca se cruzar
com a minha chegada
esse será o momento
em que o que projectamos estará cumprido
porque se complementaram todas as jornadas.

Só então a obra será inteiramente nossa.

SS

domingo, 1 de julho de 2012

SÁBADO

Está cinza o dia
e a luz embaciada
embrulha as cores
das plantas do jardim
numa espécie de poalha. 

Por isso quando o sol desponta,
a medo e meio escondido
nas nuvens esfarrapadas,

tenho a impressão
que sorri
mas só para mim.


GM