Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 27 de março de 2015

RUMAR DE NOVO



A manhã nasceu
O sol surgiu redondo
Do lado da cidade
E coloriu de rosa
O azul do mar.
Levantei-me de mansinho
Sacudi as penas
E fiz um voo curto
Para me alongar
E recuperar do medo da noite que findara.
Pousei na orla da maré.
Olhei para o alto
E pareceu-me ver,
Se bem que longe,
Um vulto ondulante de gaivota.
Aguardei ansiosa
Que se aproximasse
Para desfazer a minha dúvida
E confirmar a minha esperança.
E eis que ela chegava.
Num movimento em arco
Deslizou para junto de mim.
Cobriu-me com as asas
Cansadas de me procurarem,
segundo segredou.
Encantada
Abriguei-me nas suas penas
E mesmo sem falarmos
Percebi que não fora abandonada.

Olhei o céu
Olhei o mar
E no beijo que trocámos
Descobri
Que voltava a ter rumo novamente

gm

terça-feira, 24 de março de 2015

CABO DAS TORMENTAS


Passou o tempo
Em que a espera era só um pensamento
E não havia o longe
Porque tudo era perto.
Havia espaço para conversa
Preâmbulo de debates
Sobre temas variados
Uns actuais
Outros vindo de passados
Que conhecíamos
Mesmo sem os termos vivido.
Trocávamos cantigas de amigo
Pelas de amor
O que dava às questões muito mais calor.
E acabávamos fatalmente
com Pessoa
D. João II
e o Adamastor…

Passou o tempo
E com este legado
fomos construindo o nosso mundo!...

SS

domingo, 22 de março de 2015

Derradeiro Poente


É pena, amor,
Mas chegaste tarde.
Vieste na ponta do último raio de sol
De um derradeiro poente.
Não o fizeste de propósito
Acho que foi apenas
Porque não sabias o caminho até mim.
Não peças perdão.
Acredito que demoraste
Porque a viagem foi longa no tempo
E me querias trazer um presente
Que julgavas o mais indicado
Para alguém que não conhecias,
Mas cuja existência intuías
E querias encontrar
Para te descobrires a ti próprio.
E que certa foi a escolha!
Para alguém que vivia
Na sombra dos desafectos
Nada como o que trouxeste:
A luz desse teu sorriso.
Mal me olhaste, eu brilhei
E entendi de repente
Que apesar de tantas trevas
A vida tem um sentido.
Pena ter acontecido
No último raio de sol
De um derradeiro poente.

SS