Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


terça-feira, 16 de junho de 2015

PERDI A ALMA


Perdi a alma
no chão do meu país.
Nas palavras que se dizem
nas que não se dizem
nas que não querem dizer nada.
No rosto dos velhos
de rugas profundas
na idade e no abandono;
no dos que não podem dar
porque não têm dono;
nos jovens que vagueiam
em busca do futuro
por um caminho estreito
vedado por um muro;
nas mães que choram
embalando os filhos
nos braços vazios de pão para dar;
nos barcos desfeitos
no fundo do mar;
nos campos vazios
e que deviam criar;
no cinzento escuro
de um céu outrora azul
lembrando paz e harmonia;
num mar que foi verde
sugerindo esperança
e a sua riqueza
a nossa alegria;
nos homens errados
que mandam em nós
e que nos traçam a vida 
com ardis na voz
atirando as culpas
para os usos e memórias
da nossa raiz.
Perdi a minha alma
no chão deste meu país.


SS