Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 8 de julho de 2011

VEM COMIGO

Vem comigo, amor
A um lugar onde o céu e o mar se confundam no azul
E o tempo não exista.
Façamos dele a nossa casa
O espaço onde guardar o nosso desejo.
Porque ele está fora do real
Ninguém dará pela nossa ausência.
E, se um dia voltarmos,
A luz que nos envolverá
Cegará os invejosos.
 
SS

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PARTIR COM QUEM...

Partir com quem?
Com quem me visse
Alguém que soubesse onde estou
O que quero, para onde vou
E partilhasse meus sonhos e loucuras.
Cavalgaríamos pelo branco das nuvens
Para que ninguém nos avistasse
Porque essa viagem seria simplesmente nossa.
Depois mergulharíamos no mais profundo azul do mar
Em busca dos tesouros perdidos
Que iríamos acabar por descobrir
Estarem dentro de nós.


Parte-se sempre quando se quer voar…
Fazê-lo com alguém
Que viajasse assim comigo
Faria com que eu perdesse
O desejo de voltar .

SS

quarta-feira, 6 de julho de 2011

RASTO

Adivinho o teu rasto
Nas situações com que me defronto
E na realidade que são os meus dias.
Sigo-o como um sinal
Que me conduz ao reencontro
Que sei irá acontecer
Mas de que ignoro
O tempo e o local.


SS

segunda-feira, 4 de julho de 2011

D. SEBASTIÃO

A ter de acontecer
Esta seria a manhã ideal
Para D. Sebastião regressar.
Está nevoeiro.
E não se trabalha
Porque é domingo.

Sem termos que fazer
Nem que ler,
Já que os jornais não trazem novidades
Porque o governo ainda não caiu
E também não há bola,
Aproveitaríamos esta quietação
Para o irmos, em procissão,
Recolher.


gm

domingo, 3 de julho de 2011

SE EU FOSSE APENAS ...

Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!


Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!

Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...

Cecília Meireles