Uma irreverência entre a memória e a saudade
Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
AMOR VADIO
Amor vadio
Não, não quero dizer
amor adúltero.
Este pressupõe 3 personagens
E pode ser confundido
Com um “ménage à trois”
Artificial e sem sentido.
Amor vadio é outra coisa:
È algo buscado
E vivido em ternura.
Não tem horário
Nem dias marcados.
Acontece
Quando e sempre
Dois corpos
Se querem ou podem encontrar.
E é um delírio de prazer.
Se iluminado pelas estrelas
Tem por por leito a lua;
Se é a vez do sol
Pode acontecer
Num campo de flores,
Na orla da maré vaza,
No virar de uma esquina,.
Ou simplesmente num olhar
É bom o amor vadio
Começa no coração
E acaba sempre nuns braços.
SS
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Apetecia-me surpreender-te a dormir
Nesse sono relaxado de uma tarde de verão.
Iria pé ante pé partilhar a tua nudez
E amar-te-ia sem que acordasses.
Seria um amor suave, lento,
Igual àquele que fazemos em sonhos
Quando estamos separados.
Beijar-te-ia todo
devagarinho,
timidamente,
Como se te descobrisse pela primeira vez.
Com a palma da mão, afagaria o teu rosto
E desenharia o contorno dos teus olhos.
Se entretanto não acordasses,
Subiria para cima do teu corpo
E, com movimentos de maré vaza,
Despertar-te-ia num convite irrecusável
Para ultrapassarmos os limites
De todos os prazeres da carne
E que nos faria planar como gaivotas
No espaço imenso de um areal.
SS
Partiste sem te despedires.
A princípio pensei que para uma viagem longa
Daquelas cujo regresso não têm data marcada
Nem percurso determinado
E mais parecem uma fuga.
Fiquei triste por não me teres avisado
Porque julguei que fugias de mim
E não tens porque o fazer.
Afinal
Deixaste sinais.
Não para que eu te encontrasse
Apenas para avisar
Que a tua ausência,
Mesmo que inesperada,
Não é mais do que uma retirada
Para dentro de ti,
Lugar sem espaço
E onde o tempo não existe,
Mas que sentes ter de arrumar
Para encontrares
O equilíbrio do teu ser
E abrires novos caminhos.
Estranha maneira de fazer férias
Para a qual não são precisos mapas,
Passaportes nem agências de viagens…
SS
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