Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

CHEGASTE NUMA MADRUGADA


Chegaste  de madrugada
sob a forma de visita inesperada.
Tinhas atravessado o mar sem fundo
e acompanhado a rota das aves marinhas.
Encontraste-me
para além das montanhas
onde havia um rio com a cor do ouro
e o ar cheirava a fruta doce.
Os pinheiros, ao sabor do vento,
tocavam a música que me embalava.
Recebi-te como hospedeira
de um hotel que ainda tinha vazio um lugar.
Aí te instalaste e, porque te agradou
acabaste por ficar.
Longo tempo passou,
tudo continua igual:
Nem a distância
nem as ausências
nos desviaram do curso traçado
porque tudo para nós foi sempre natural.
Chegaste numa remota madrugada
e permanecemos até hoje
presos pelo mesmo fio que nos uniu,
que ambos atamos, mas que não se vê
porque foi tecido por nós a partir de um nada.

SS

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