Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

PALAVRAS

Nem o teu calor me aquece,
nem as tuas mãos me afagam.
Há paredes invisíveis entre nós
enormes,
intransponíveis, 

blocos de cimento que nos impedem a passagem.


Que felizes éramos
quando apenas nos separava a distância
e nas nossas jornadas solitárias
as palavras
eram tudo o que tínhamos de bagagem.


SS

domingo, 1 de dezembro de 2013

AUSÊNCIA

A nossa ausência começou antes de nós
Nos lugares onde não nascemos
nas pessoas que não conhecemos
na infância que não partilhámos
nas escolas que juntos não frequentámos
no liceu onde nunca me foste buscar
nos cursos que fomos tirando
nas cidades em que ambos não estudámos.  

A nossa ausência foi marcada
por outros alguéns que ambos amámos
por guerras e revoltas que não escolhemos
pelos filhos que fomos fazendo
e pelos dos outros que nós ensinámos.
Nunca nos conhecemos, mas sempre vivemos
em busca de alguém onde nos encontrarmos.  

A nossa ausência hoje é uma presença
tem corpo, tem voz, tem realidade.

Encontra-se no espaço de cada instante
em que ambos nos unimos em total verdade.


SS

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O DIA A SEGUIR

O dia a seguir é o pior.
É o dia em que não queremos acreditar,
e em que ainda nem sentimos ausência
porque a proximidade da partida

alimenta a fé num possível regressar.

Mas no dia a seguir
começa a sentir-se a irrealidade
de uma vida igual à anterior.
Por isso o dia a seguir

é o primeiro de um tempo novo
erguido sobre memórias e vivido na saudade. 


SS

terça-feira, 19 de novembro de 2013

NUMA PARTIDA


Filó

Acredito que cada um de nós
será capaz de transformar a dor da tua partida
num momento de muitas memórias
em que a tua perda representa apenas mais uma ausência
e cada lágrima, que agora choramos,
uma pérola que enfiaremos no cordão
que é o passar de cada dia
e com que faremos um rosário especial
para rezarmos por ti.


A eternidade não tem princípio e nem fim.
Quando lá chegarmos
Não temos que pensar no que ficou para trás
nem no que está para vir.
Nesse momento
teremos à nossa espera
todos quantos como tu nos deixaram
para nos esperarem e indicarem o caminho.
E nesse lugar, que julgamos sempre tão distante
Porque nos chama de surpresa,
Vamos ver-te à nossa espera
A fazer o que tão bem sabes: sorrir.
 
Até sempre, amiga

Isabel 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

ESTRADA



A cada dia
percorremos mais um pouco da longa estrada
que há entre nós,
espaço vazio que desconhecemos
mas de que procuramos entender a realidade.

Os passos dados em direcção ao outro
são apenas etapas
que nos ligam mais do que nos separam.
Partimos com a certeza de um encontro,
termo desta busca de desejo modelado na saudade.


 SS

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

RUMO DE PALAVRAS

Recolho-me nas tuas palavras,

aves em voo de um bando perdidas


buscando o seu rumo num outro lado

que não o dos outros, dos comentaristas,

mas antes diverso do que é esperado.


Sorvo-as por inteiro,

não em frases longas, mas letra a letra,

alimento-me com elas para me livrar

da teia tecida por malabaristas

que jogam com elas para nos enganar.


SS   

domingo, 10 de novembro de 2013

CIDADE DESCONHECIDA

Procurei-te em cada canto que percorri
mas não te achei,
não te senti,
não te beijei.

A cidade hoje foi outro lugar
que eu não conhecia,
por onde nunca passei
e que vou tentar esquecer
como  se esquecem os lugares vazios
aqueles que não nos dizem nada
porque além de inúteis são sempre frios.

SS

sábado, 9 de novembro de 2013

PROXIMIDADE DISTANTE

É quase insuportável

este saber-te longe de mim

quando vou estar tão perto.

Vou imaginar-te em cada esquina

e em cada lugar que já percorremos.


Mas apesar de não te poder ver por ali

o lugar a meu lado será sempre teu decerto.


SS

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ORALIDADE

Quase tanto como do teu corpo
preciso das tuas palavras
que me dizem o que gosto de ouvir:
pequenos segredos nossos
que só nós conhecemos

só nós partilhamos
só nós entendemos.
É um querer feito de palavras soltas
que trocamos em pura liberdade.


Mais  que os grandes gestos ou carícias
o que sustenta este nosso amor

é sabermos usá-lo em oral cumplicidade.

SS

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

SAUDADES DE NÓS


Não sei porquê
Mas tenho saudades de nós,
das pequenas coisas vividas
num quotidiano que não existe,
das trocas de palavras
em conversas sem falarmos,
do cruzar  de olhares que nunca vemos,
da partilha de ideias que não revelamos.
 
Somos cúmplices do nada
indivíduos sem voz,
será por isso que tenho
tantas saudades de nós?
 SS

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sufoco

Sufoca-me
a lentidão do tempo
que parece nunca acabar.

Sufoca-me
este silêncio dos corpos
que não se podem encontrar.

Sufoca-me
a imposição de existirmos
sem nos podermos amar.


SS

sábado, 26 de outubro de 2013

VIRGEM

Despi-me toda para ti.
Deixei a pele a nu
no despojamento de um recém-nascido.


Nada ficou marcado em mim
de outro tempo
de outra pessoa
de qualquer amor antes sentido.
Agora aqui me tens.
Sinto que continuo virgem
toda por inteiro.


A ninguém pertenço
porque nunca fui tão livre.
Vem, meu amor, torna-me tua,
ama-me porque chegou a tua vez.
De todos os homens que há sobre este mundo
eu te escolhi para que fosses o primeiro.

 SS

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

GOSTO...

Gosto de te ver ao fim da tarde
quando o sol, prestes a partir,
para receber a lua
que se anuncia,
se veste de mil cores
antes de fugir. 

Gosto de te ver na alvorada
quando a lua, já cansada,  
para dar lugar ao sol,
mergulha no mar
tão de mansinho
que nem damos por ela se ocultar. 

Gosto de te ver sempre, amor,
quer de noite, quer de dia.
Que a lua tenha fases
ou o sol esteja a dormir ou acordado
nada disso me importa.
Sempre que me quiseres,
a cada vinte e quatro horas,
só tens mesmo que bater à minha porta.

SS

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

SENTIDO DE VIDA

Faço as coisas sem saber porquê

talvez por instinto

ou simplesmente por acaso. 

Guardo o que sou dentro mim

e só contigo o partilho de um modo total.

Posso enganar todo o mundo

mas a ti eu nunca minto

não por ser pecado mortal

mas apenas por instinto.


Exerces de meu guia

e é minha a tua medida

 ao avaliar o que faço e o que sinto.

 É por isso que sem ti

 não teria sentido a minha vida.

 SS

domingo, 20 de outubro de 2013

ANIVERSÁRIO

Enquanto fui menina

que o dia do meu aniversário

acontecesse apenas uma vez no ano

nunca me tinha apercebido.


Mas hoje cada dia que passa

de todos que vou vivendo

é para mim um dia de aniversário

porque EU a cada dia celebro o ter nascido...
 

SS

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

TARDE DE CHUVA


Está triste a tarde, amor,

Tal como eu. 

Revejo-me no cinza insistente do céu

e sinto como lágrimas a chuva que lá fora cai.



Esta penumbra lembra-me saudade

ausência de corpos em intimidade

grito solitário que de minha alma sai.


SS

sábado, 12 de outubro de 2013

BRAÇOS


Que saudades tenho dos teus braços

não por causa dos abraços

como poderás talvez pensar. 

Eles são realmente saborosos

tal como um leito

e neles me consigo embalar.



Mas não é por isso só

que tenho saudades dos teus braços.

Eles são o pilar que me sustém

e me impede de cair e magoar.

Trave segura do meu corpo

esses teus braços 

são o que  primeiro me enlaça

para  depois me puderes amar.
 
SS

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

BOM DIA, AMOR

Fernando Pessoa tinha um heterónimo feminino, Maria José, rapariga doente que a cada dia via passar o seu amor pela rua, mas que embora sabendo que nada poderia ter dele sonhava que um dia poderia receber um pouco do seu amor. A letra deste fado são as palavras escritas pelo poeta para esse seu outro existir.


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013


Não sei porque partiste mais uma vez
sem me avisar
e no meio de um silêncio tão profundo.

Estranhei a tua ausência
se bem que saiba que o teu mundo
não cabe no tempo
e não tem lugar.

Mas dentro de mim,
e sem me avisares,
sei que irás regressar
porque sou para ti um porto de abrigo.

Enquanto espero,
a cada noite me visto de estrelas
e me deito sobre uma colcha azul profundo.
O meu brilho te guiara de novo para mim,
meu amor, meu amante, meu amigo.


SS

terça-feira, 8 de outubro de 2013

ESPAÇO VAZIO


Não sei explicar
nem encontro palavras que me sirvam
para te dizer como estou, como me sinto
dentro deste muro a que alguém chamou saudade.

Feito de dias que conto sem somar
e de horas que passam a voar
tentando, sem conseguir,
travar a sensação da perda,
esse tempo que nos negam partilhar
é um espaço vazio onde nunca poderemos
viver o nosso amor em liberdade.
 
SS

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

SABER QUE ESTÁS AÍ

Ter-te perto 

É saber que estás aí 

Não interessa onde

Nem como, 

Presente ou ausente 

Apenas que estás aí.


Mesmo que não te ouça 

Te sinta ou te veja

Saber simplesmente isso 

Basta-me.


Nada me pode acontecer 

Porque estás comigo. 

A tua força dá-me energia 

E o teu querer vontade. 

Vejo o céu no teu olhar 

E sigo o teu rasto

Nas pegadas de cada dia. 

Saber que estás aí

Faz-me crer 

Que vale a pena esperar…


SS

sábado, 5 de outubro de 2013

HORIZONTE PESSOAL

Enrolei-me em ti
e deixei-me moldar
pela forma do teu corpo.
Os meus gestos foram os teus
e as palavras que proferi
o eco da tua voz.
Num só ser nos tornamos
como água da mesma fonte.
E o mundo que partilhamos passou a ser um espaço
que tem como limite
apenas o nosso particular horizonte.

 
SS
 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013



Guardo-te comigo num espaço limitado
quase emparedado,
pelo céu, pela terra, pelo mar.

Nesse lugar sem tempo
te conservo abrigado
de tudo que nos queira separar.
Contudo podes sempre partir
se sentires que já não estou na tua vida.
De nada és prisioneiro. 


Amar não rima com prender
Antes evoca sempre um companheiro.


SS

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

MARÉS




Chegaste até mim como as marés
entre recuos e avanços,
entre temporais e dias de bonança.

Talvez por isso me surpreendes  a cada dia
e sinto que estás presente mesmo ausente.
Amar-te assim não é um sentimento
é um puro exercício de esperança.


SS

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

CANÇÃO DE UM DIA COMO O DE HOJE

FIM DE VERÃO

E hoje o dia foi assim:

esperando a chuva prometida


e que afinal não chegou,

a trovoada que nem se anunciou

e o vento que ficou em algum lado

como coisa esquecida.


Foi o fim do Verão, amor,

agora só nos teus braços

eu poderei encontrar

um pouco da estação perdida

naquilo que só tu me sabes dar:

muita luz, muito calor.


SS

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

SENTIR


Não sonhei
nem te vi
apenas te senti como uma brisa
ao longo deste dia que passou. 

Sinal que estás em mim
e mesmo envolvidos na distância
o nosso amor não terminou.


SS

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Beijo feito mar


 
Junto da praia,
neste pôr de tarde,
cada lufada de vento
arrastou no seu torvelinho
um beijo para me entregar.
E a minha face ficou perfumada
por dois odores diferentes:
um que, de longe, brotou de ti
e o outro que me trouxe o mar.

 
SS

terça-feira, 17 de setembro de 2013

VIAGEM


Vem.
Não me perguntes para onde,
mas parte comigo.

Cruzemos o céu e o mar
sem rumo certo
e sem tino.

Confia em mim
sem questionar.
Olha-me nos olhos apenas
e deixa-te levar.

Desfrutemos plenamente da viagem
onde o que menos interessa é o ponto de destino.


SS

domingo, 15 de setembro de 2013

Tarde


Pôs-se triste a tarde
cinzenta e ventosa.
Sugere recolhimento,
um livro, um filme na televisão,
um delírio culinário
para um jantar requintado
ou …
outras coisas que não comento...

SS

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

SESTA


 
Nesta tarde de céu azul e morno

em que tudo está quieto à nossa volta

apetecia-me dormir um largo sono.

E, quando acordasse, fazê-lo no teu regaço

Tendo como manta um sorriso

e como travesseiro um grande abraço.
 
SS

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

ESPAÇO PARA ESTAR


Porque voo em sonhos
e porque sonho voando?
Porque deixo a minha alma
perder-se neste eterno procurar
de um sítio para ter paz

ou apenas repousar?

Nesta busca incessante
e persistente
nunca achei pouso nem lugar
em que pudesse por fim parar...

Porque me revelas o horizonte em cada abraço,
em cada palavra, em cada gesto, em cada olhar,
talvez tu sejas o tal espaço
que procuro há tanto tempo para estar.


SS

domingo, 8 de setembro de 2013

A PROPÓSITO DE ABRAÇOS

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

AMOR SERÔDIO

 
O nosso amor 

é como um tinto juvenil

que, bem tratado,

fermentou e se adoçou.

Maturou,

ganhou em corpo e vigor,

perdeu os arroubos da juventude,

envelheceu,

e abriu em sabor.

 

SS

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

REGRESSO


Sou ave migrante.
Acompanho o ritmo dos dias,
vivo em função das estações
e o meu voo é sempre para além
do que podes alcançar.

Para me teres, contudo,
não precisas de muito:
basta mandares-me um recado pelo vento,
meu timoneiro neste eterno viajar.

Logo que o receba
de onde quer que eu esteja,
por mais longe que seja esse lugar,
regressarei
porque eu "sinto" sempre
onde te posso encontrar.


SS

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

AMOR INTEIRO


Senti-te chegar bem de mansinho,
como se fosses uma brisa a passar.
Brilhavam nos teus olhos mil estrelas
que desfiavam os raios de luar.
Entraste na cama e procuraste-me.
Nesse momento
toda a luz que vinha lá de fora
estendeu-se sobre nós
e iluminou o nosso leito
onde, para ser inteiro,
o amor é sempre feito devagar.


 SS

 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

REGRESSO?

 
Hoje
Não tenho para te dizer
que tu já não saibas.
As minhas novidades são escassas,
tão escassas como o nosso tempo.

Apetecia-me ser gaivota

e saber voar,
cruzar os ares e aterrar no teu colo
para ficar ali a descansar.


Só não ouso fazê-lo
porque depois de ti,
no meu regresso,
talvez já não conseguisse
reencontrar a minha rota.


SS

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

PERCURSO


Num mundo qualquer
nos conhecemos  

e depois …  

em qualquer texto
nos encontramos
em qualquer tema
nos debatemos
em qualquer hora do dia
nos amamos


SS

quinta-feira, 29 de agosto de 2013


28.8.2005
 
 
Ítaca

O que dói
É não poder apagar a tua ausência
e repetir dia após dia os mesmos gestos

O que dói
É o teu nome que ficou como mendigo
Descoberto em cada esquina dos meus versos

O que dói
É tudo mais aquilo que desteço
Ao tecer para ti novos regressos

 
Daniel Faria

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

VIRTUALIDADE


Chegaste de longe
por caminhos em que Eros
se cruzava com o gosto do saber.
Encontrámo-nos na intercepção
das duas linhas.
E o diálogo buscado
acabou por se estabelecer
primeiro por curiosidade
depois por necessidade
e hoje porque o destino
lhe deu asas e o fez crescer. 

Pena que este encontro tão real
se viva em ambiente virtual.


SS

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

C A L O R ...

Tarde de verão…
Estúpida
parada
por causa do calor.
Lembra apenas bebidas frescas
sombra, inércia, indolência
e até o silêncio é um favor.

Desculpem-me,
apenas uma concessão:

esqueçamos toda esta inconveniência
se aparecer, por acaso,
um convite, uma cama e um amor.


 SS


 


sexta-feira, 23 de agosto de 2013


Sou concha
que o mar trouxe lá do fundo
e esqueceu por distração no areal.

Ninguém deu por mim.

Nem tu 

a quem eu vinha destinada.

Envolvida pela areia
e com tão pequeno formato
nem te apercebeste que nela estava guardado
um recado especial para ti.

Que pena não me teres encontrado…


SS

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ESPERA



Para além do azul
havia ainda um outro azul
mais azul ainda.

Era o mar.

De longe ela olhava-o
esperando que alguém
viesse para a levar.
O tempo passou
e ninguém chegou.

Alheada, numa espécie de miragem,
não mais se mexeu
e continuou a esperar
cativa de um regresso
numa ponta de aragem.

SS

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

APRENDIZAGEM


Antes de ti já procurava
os segredos da palavra
e os caminhos do saber.

Um dia apareceste
e provocaste o meu processo de aprender.
Para ser capaz de uma resposta
questionei-me em íntimo combate.

Recuperei tesouros escondidos
falei-te deles e questionei-te.
Argumentaste mas eu refutei.
Então percebi, que à tua sombra,
ficara pronta para qualquer debate.
 
SS

terça-feira, 20 de agosto de 2013


Ouço o teu silêncio
enquanto buscas
em folhas dispersas
a cadeia de nomes e de datas

e até de lugares
que te revelem um dia
qual é o teu verdadeiro chão.


Cada nome é uma raiz
Cada data é uma história
Cada lugar uma memória.
É uma busca dispersa e cruzada,
como as podas num jardim:
não é pelo olhar que as entendes
mas pelo teu coração.


SS

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

NADA


Levou-te  a distância e o tempo

no emaranhado das tarefas

e da tua quotidiana vivência.

Levaste contigo as palavras

e até o pensamento.

Para mim sobrou apenas  ausência.
 
SS

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O QUE TINHA DE SER



ANIVERSÁRIO


Fazer anos
é um dom
porque celebra a vida
e nos desperta a memória
para a nossa própria história.


Momento de alegria
mas também de reflectir
no que está já feito
e no que há-de vir,
é um instante de passagem
tão rápido como uma aragem
que mal chega logo parte
mas nos inspira emoção:
uma pitada de dor
temperada com amor.


Bom dia de anos, senhor.
O seu conceito de idade
a cada dia lhe mente
porque pensa nele como um crivo.
O que importa realmente
não é a soma dos anos
mas a sua prova real.
Se a fizer bem feitinha
Perceberá que está vivo.


SS

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Et si tu n'existais pas


terça-feira, 6 de agosto de 2013



Nasci banhada pelas marés,
cresci com as sirenes dos navios
e os pregões cantados das peixeiras.
O destino desenhou a minha rota
num areal dourado
à hora em que partia a frota
para mais um tempo de canseiras.

Por isso o destino marcou-me fatalmente
e embora o meu corpo seja o de gente
a alma que carrego é de gaivota.


SS


domingo, 4 de agosto de 2013

SILÊNCIO

 O som das tuas palavras 

serve-me de vestido 

na tua ausência. 

Com ele tapo a nudez

de cada um os dias que passam 

sem te ver

sem te sentir

sem te tocar

e submersa pela tua mudez.


SS

quinta-feira, 1 de agosto de 2013


Não espero fazer nada

que te perturbe o repousar.

Fico calada, à espera,

que te volte uma nova vontade

de partir com um outro caminhar.
 
SS

segunda-feira, 29 de julho de 2013

APENAS

Apenas no sono 

encontro a paz . 

Apenas no teu olhar 

eu me reconheço.

Apenas vivo porque sou capaz

de resistir à dor de não poder estar

com quem me aquece quando arrefeço.


SS

quinta-feira, 25 de julho de 2013

VIVER

Abre os braços bem abertos,

rodeia-me com eles

e mima-me como se me quisesses adormecer.

Depois deixa-me sonhar e não mais me despertes.

Ter-me em mim dessa maneira

É a mais doce forma de viver.


SS

quarta-feira, 24 de julho de 2013

ABRAÇAR

Não contei cada dia

cada hora

cada minuto

cada segundo

que vivi neste tempo longo

sem te sentir nem olhar.


Hoje somei todos eles

para tentar entender

como fui capaz de resistir sem ti

e viver sem te abraçar.


SS

sábado, 13 de julho de 2013

BOA NOITE


Boa noite, amor,

mesmo a esta distância

sem ocasião 

de me responderes.

Mas,


sabes,

não consigo calar toda esta ânsia

que me avassala

sempre que vou dormir

sem me quereres.


SS

quarta-feira, 10 de julho de 2013

FOTOGRAFIA

Hoje,

no meio do meu trabalho,

por entre ficheiros e arquivos

dos que tenho escrito ou consultado

para dar vida a dois textos renascidos,


encontrei-me com a tua fotografia.


Fiquei parada,

olhei-te longamente

e enchi os meus olhos de ti.


Deus meu,

Há quanto tempo te não via...


SS

quarta-feira, 26 de junho de 2013

ABRAÇO



Sentir-te procurar-me de mansinho
olhando-me como se olha o que se quer,
roçares na minha a tua pele
alisando-a como  se fosse um malmequer,
saber que estás ali a esperar
que eu acorde

para me puderes amar,
faz-me pensar que vivo em outro mundo
em que nada mais existe
para além desses teus braços
abertos num abraço
em que me afundo.


SS

sábado, 22 de junho de 2013




E pronto

Dizem que hoje chegou.

Por aqui anunciou-se

mas não se mostrou. 

Mais propriamente

apenas espreitou. 


num dia igualzinho ao de ontem

com um vento de pavor…


Resumindo:
Já chegou o Verão
mas não o calor.

SS

terça-feira, 18 de junho de 2013

NEM SEMPRE SILÊNCIO


O meu silêncio
não é por nada ter para te dizer.
Antes pelo contrário
tenho tanto
que todas as palavras que escrevesse
não chegariam para o fazer.

Dizer-te quanto sinto a tua ausência
quanta falta me faz o teu olhar,
o teu sorrir, o teu pensar,
a maneira como te diriges a mim
as conversas que travamos,
as gargalhadas que sobre nós damos
é muito pouco para o que haveria a contar.

Sei que falamos diariamente
mas ouvir e não te ver
rouba-nos a sensação do toque e da presença
pequenos grandes nadas que nos ligam
e uma forma quase completa de contigo conviver.

SS

domingo, 16 de junho de 2013

CANSAÇO


Queria dar-te um beijo
mas estou tão cansada
que não sou capaz de me deslocar
depois do monte de tarefas para acabar.

Boa noite, amor.
Vou-me deitar.

Não estarás a meu lado certamente
mas no fim da confusão do meu dia
basta-me apenas dormir.
Não te ofendas comigo

pois mais do que amar
hoje preciso dormir profundamente.


SS

sábado, 15 de junho de 2013

INFINITO




Para além deste nosso tempo
haverá um outro tempo
que está algures à nossa espera.

Será um tempo novo 

sonhado por nós
que não sabemos onde fica
nem como lá chegar
mas onde nos queremos reencontrar.
Ali nasceremos de novo
teremos outra vida
crescendo juntos
partilhando o nosso quotidiano
não como coisa vedada
mas ambicionada.

Ambos teremos que partir
para o alcançar.
Prometo chamar-te depressa
se for eu a primeira a ir.


SS

quinta-feira, 13 de junho de 2013

PRECE




Ó meu rico S. António
Santo da minha devoção
Arranja-me alguém que me adore
Do fundo do coração.

Se não conseguires o que peço
Vou vingar-me do teu não
E pedi-lo ao pé da casa
Ao meu querido S. João.
 
SS
 

quarta-feira, 12 de junho de 2013


Separou-nos o tempo
e as circunstâncias
que não a vontade.
Essa
sufocamo-la dentro de nós
nas palavras trocadas
nas saudades sentidas

nos temas discutidos
à distância do pensamento
nunca do afastamento.
Esse foi apagado da nossa memória.

Mas mais forte que tudo
foi a teimosia
de escrever a nossa história
no desfiar de cada dia.


SS

terça-feira, 11 de junho de 2013




Hoje não me apetece falar de amores,
felizes ou infelizes,
de ausências ou de saudades,
de lágrimas derramadas
pelos males do coração,
de fugazes abandonos
por crises de ciumeira,
de bilhetinhos de amor
que não chegam ao destino
por desvio ou distracção.


Não, hoje não farei nada disso.
Vou dedicar-me à leitura.
Sofrer tanto pelos outros,
os que amam ou desamam,
como se fosse eu a vítima
é tarefa que satura.


SS

domingo, 9 de junho de 2013

ENCONTRO

Encontro-me comigo

no desaguar do nosso amor
quando somos um ser em dois corpos
que se unem,
que se sentem,
que se querem com ardor.
 

Encontro-me comigo
no silêncio que guardamos,
na troca cega de olhares
no toque quente das mãos.
Encontro-me comigo
sempre que estamos.
 
SS

sábado, 8 de junho de 2013

SIMPLESMENTE QUADRA


 
 
Nunca me dizes a palavra amor
Por isso preciso de traduzir
o teu “gosto” pelo que quero ouvir.
Será por vergonha ou por pudor?
 
SS

sexta-feira, 7 de junho de 2013


Deixa-me repousar em ti
sentir-me nuvem
sem peso,
sem forma
e até sem cor,
assim como algo inexistente.

Repousar em ti
dessa maneira
num espaço vazio de tudo,
sem luz, sem som, sem movimento,
na evasão total dos nossos corpos,
seria uma forma de amarmos bem diferente.


SS

quinta-feira, 6 de junho de 2013

FÓRMULA



Apetecia-me dizer-te tanta coisa!...
Contar-te tudo quanto fiz desde manhã,
coisas pequenas, é certo
mas muitas e variadas
para manter ocupada a minha mente
e assim lembrar-me menos de ti.

Não penses em nenhum momento

que isto é por desamor
É apenas um modelo que criei
para tentar perceber
se a saudade pode ser a forma adequada
para conhecer um outro lado do amor.


SS

quarta-feira, 5 de junho de 2013

SAUDADES DOS DIAS










Boa noite, amor.
Neste fim de um dia
que teima em não acabar,
que me encheu de cansaço,
mas foi curto para matar a saudade
de um grande uma amizade
vinda do outro lado do mar,
em que brindamos à vida
frente a um mar azul de fundo,

senti saudades de ti,
do tempo em que que não havia ausência
e o mais longe para nós
era apenas o AQUI.


SS

terça-feira, 4 de junho de 2013



Hoje sonhei-te
emaranhado em todo o meu dia
nas pequenas coisas que fui fazendo
nos pensamentos que fui tendo
nos passos que fui caminhando

nas conversas que estabeleci.

Hoje o meu dia
foi inteiro para ti.

 
SS

segunda-feira, 3 de junho de 2013

AMIZADE



Pressinto-te a amizade
Nas palavras escritas de cada dia
que se cruzam entre nós
soltas, curtas,
como se nos quisessem agarrar
e unir.
Sabe bem lê-las
quando não as posso ouvir.


SS

sábado, 1 de junho de 2013

PRECE


Conto cada dia

como desfio contas de um terço

em que cada Avé-Maria

é uma prece

e cada Glória representa

uma fé num encontro ou num regresso.



No tempo que vivemos 

é isto que me aguenta

e resistir a tanta ausência

o que mais peço .


SS

quinta-feira, 30 de maio de 2013

COMPENSAÇÃO



Mais um dia
em que a primavera se vestiu de Inverno
e a chuva e o frio vieram para ficar.
Apesar de tudo,
as rosas do meu jardim floriram
e, quais sentinelas,

cismam em durar
e nem mesmo o vento as convence a cair
apesar de as obrigar a um balanço constante.
Estão ébrias de água e se as tento cortar
desfazem-se no chão no mesmo instante.

Mas as que apanhei, antes da chuva chegar,
e que tenho à frente do lugar onde trabalho,
enchem-me os olhos de perfume e de beleza.
Pu-las aqui do lado apenas para meu prazer
e elas, para compensarem
o engano da estação,
olham para mim e sorriem
com um tímido “desculpa-nos”
directo ao meu coração.


SS

terça-feira, 28 de maio de 2013

BUS STOP


Não esperes, amor,
Hoje não vou aparecer.
O céu acinzentou-se
e o sol perdeu o calor com a aragem
que arrasta tudo na sua correria.

Não tenho coragem de sair

mas bem que gostaria

de mais uma vez ser para ti

um porto de paragem.
 
SS

BATUTA





Não adormeças sem me dar a mão.
Receio perder-me de ti
na turbulência do sono.

Se não te sinto perco-me
e procuro encontrar-te
por entre os farrapos de sonho

que se debatem dentro de mim.

Mas se eu estiver presa a ti
nunca me desviarei do meu caminho
e mesmo adormecida
seguirei com atenção todos os teus passos.


Para que não me perca
não preciso de te ver ou de te ouvir.
Basta-me sentir que a tua mão
como uma batuta

marca o ritmo do meu coração.

SS

sábado, 25 de maio de 2013

NORTADA



Definitivamente
hoje não é dia de irmos ver o mar.
Afasta a ideia do copo no bar do costume,
como gostamos de fazer nos fins de tarde,
em que esperamos que o poente nos envolva
no círculo fechado do embalar das ondas
que no seu pacato vai e vem
é um cenário idílico de som e de cor.

Hoje a nortada pintou o mar de verde,
um verde acinzentado,
polvilhado por centenas de flocos de espuma
assustando as gaivotas que, coitadas,
se recolheram em grupo, apinhadas
ao longo do paredão.

Mas porque não vamos ver o mar

não fiques triste.
Dá-me a mão,
fecha os olhos e deixa-te guiar.
À falta de um fim de tarde à beira-mar
Juntos faremos uma íntima celebração:
por praia, teremos a nossa cama
por ocaso, o pensamento que voa como o vento
e daí partiremos até onde o amor nos quiser levar.


SS

terça-feira, 21 de maio de 2013

TEMPO


O tempo cerca-nos
como um véu que nos envolve
e decide cada um dos nossos actos.
Mostra-se mas não se deixa prender
sentimo-lo como algo que nos ultrapassa
e que modela a vida que nos tocou viver.

Possuir o tempo não é fácil
é uma contínua busca ideada
que nos desgasta a cada segundo
ao deixar-nos sempre a sensação 

que por mais que o procuremos
dele o que resta é sempre o nada.

Possuir o tempo está muito além de nós.
Tal como sucede com a eternidade
sabemos que existe, que anda por aqui,
mas que nunca o atingiremos
porque mais que dimensão é divindade

SS

sábado, 18 de maio de 2013

Uma das poesia favoritas escrita por um saudoso amigo meu

Seria o Amor Português

Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
— tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.
Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo, no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.
«Que me importa que batam à porta...»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
do teu amor tudo seja novo,
um homem uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.

Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?

Fernando Assis Pacheco, in A Musa Irregular

FUGA


Não sei que dizer-te deste meu silêncio,
deste meu recolhimento mais forçado
que escolhido,
deste fuga do quotidiano
do manter-me em local bem escondido.

Não o procurei.
Foi-me imposto

por coisas,
talvez até pequenos nadas,
mas que a raiva me faz ver como Adamastores
e por isso nego-me a dobrar o cabo

que mais, do que de tormentas,
temo que seja espaço de outras dores.

Estou só e sem forças
e não avisto nenhum  piloto de D. João II
que me ate as mãos ao leme
e me faça lutar contra outro mar
que, mesmo desconhecido,
poderia talvez ser o que eu procuro,
aquele em que a calmaria
tornasse este meu corpo

um ser mais aberto à vida,
mas, hoje, sobretudo, renascido.

SS

segunda-feira, 13 de maio de 2013

OLHAR



 
 
Não precisamos de palavras entre nós.
O nosso olhar diz
tudo quanto queremos
e sentimos.
Nele se confundem
as vivências
de horas esquecidas
em que nenhum de nós pensa sermos dois.
É o registo único do quanto dizemos
e do que ficou por dizer nas horas partilhadas.
Por isso para nós
as palavras não são nada.
 
Se me queres
não fales.
Olha bem fundo de mim.
Para nos amarmos
basta-nos a fusão dos olhos com o silêncio.
SS








domingo, 5 de maio de 2013

RECADO A MINHA MÃE




Mãe,
como em todos os outros anos
desde que partiste,
hoje também terás flores 

e serão da mesma roseira que mandaste plantar
junto ao muro do jardim
agora transformado num enorme painel de rosa e branco
pintado pelos primeiros raios do sol

que se fez tardio, mas chegou por fim.

Vou tentar mais uma vez
que o dia seja de festa
e que ninguém sinta saudades,
coisa difícil numa casa
que conserva ainda o teu cheiro,
a tua voz,
o teu sorriso,
os teus ralhetes,
enfim…
tudo o quotidiano em que se sente a tua presença
mesmo depois todos estes anos de ausência.

Prometo-te, mãe,
que hoje te vamos procurar
nas estrelas que acendeste no céu por cada um nós
para que te pudéssemos rever em cada noite.
E, apesar de separados pelos acasos da vida,
de onde quer que estejamos hoje
seis beijos de amor irão até ti chegar.

BOM DIA, MÃE


SS