Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

DÚVIDA

Se compreendesse a razão do despropósito de teimar em explicar esta tendência de abrigar dentro de mim memórias e sonhos já passados, talvez descobrisse se a minha vida foi marcada por tudo quanto perdi ou pelo que ganhei a cada um dos passos dados SS

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

MUSICA PARA O NATAL

Uma música para o Natal Uma só Que calasse os Jingles Bells E os White Christmas (que até nem são tão whites por todo o lado). Ópera também não Nem sonatas Ou sequer o Hino da Alegria. E até do Natal Português Esqueceria tudo Mesmo o mais que repetido “Olhando para ó céu!” Música para o Natal, Se ma queres dar Apenas a da tua voz Dizendo baixinho Para só eu escutar: Vem comigo. Esquece o mundo lá fora E deixa-te amar... SS

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

TUDO O QUE VEMOS É DIFERENTE

Tudo o que vemos é diferente. Comecemos por nós próprios: Quando nos olhamos Vemos um outro sexo Estaturas distintas E até o cabelo desigual. Relativamente ao mundo Que nos rodeia É diversa a nossa noção de cor A análise do espaço E o modo como lidámos com os outros Sendo tão divergentes Onde está a razão Para esta forma igual e premente Que temos no amar? Talvez a encontremos Na água donde viemos. Da tua cidade vês o rio Da minha eu vejo o mar… SS

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PALAVRAS

Para quê palavras Entre nós? Que dizem elas Que nós já não tenhamos dito? Que novidades nos trazem Ou que intenção nos sugerem? Nós não precisamos de falar Por isso não precisamos de palavras. Para dizermos alguma coisa Basta o nosso olhar SS

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Do que precisava agora Era da tua mão Dispensaria o resto (no que podes entender como tal). Bastar-me-ia mesmo e só a tua mão. Para quê abraços, beijos Ou um olhar trocado Quando só por tocar a tua mão Esqueço tudo quanto dói E sinto o teu calor a invadir-me o coração? SS

domingo, 28 de novembro de 2010

O tempo escoou-se nas palavras nos gestos nas carícias nos olhares… E a emoção de estarem juntos Perpassou pelo ar Como o fumo dos cigarros Nervosamente fumados ss

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

VORAGEM

O tempo diminui No sentido inverso Do desejo O longe faz-se perto E a ausência Aproxima-se da presença Eu e tu Tu e eu E eis que não há mais tempo Nem ausência Apenas desejo e presença

ss

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

SURPRESA DE AMOR

Se o meu amor se lembrasse De me vir agora beijar Eu não morreria de espanto Mas sim de tanto o amar ss

domingo, 21 de novembro de 2010

O meu paraíso não tem Eva, nem Adão E muito menos serpente. Existe dentro mim Tem flores e mar Mas nunca gente. Surge de forma espontânea Na minha mente Quando paro p´ra sonhar. Tem a forma de um jardim Porque Deus esqueceu-se De lá fazer um pomar. E sem fruta proibida Faço quanto me apetece Não há quem me aponte pecados Ou sequer pense mal da minha vida. SS

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ESCOLHA

Se pudesse escolher agora O que me apetecia De tudo quanto me dás Pediria um abraço Apenas um abraço E ficaria em paz. SS

sábado, 13 de novembro de 2010

SE TE PUDESSE AMAR À LUZ DO DIA

Se te pudesse amar à luz do dia E passear pelo mundo de braço dado Trocando os sorrisos e segredos De um casal de namorados, Não sei se seria mais feliz. O nosso amor vive de momentos isolados Partilhados todos com tal intensidade Que nunca se perde em ninharias. Por isso, apesar do longe e da saudade, Talvez este segredo em que vivemos Seja a chave para sentirmos cada dia Que somos realmente apaixonados. SS

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

DEPOIS DO AMOR

Depois do amor Há um pequeno nada no teu olhar Que me intriga sempre Porque não o sei entender… Sinto apenas que ele me envolve Como uma nova pele Que se ajusta melhor ao meu corpo. Será ternura ou resto de prazer? SS

domingo, 7 de novembro de 2010

PRAZERES

Não sou de grandes prazeres Daqueles que evocam O infinito ou o pecado. Bastam-me os pequenos De preferência variados: Um livro que se descobre E se lê em solidão; Uma música, talvez um swing, Que me arrasta a paraísos perdidos; Um encontro de amigos Festejado em união De uns tintos bem escolhidos… Marcado ou inesperado Tudo para mim é um prazer Se me enche o coração. SS

NUNCA

Nunca voei tão longe Como com as tuas asas… Nunca subi tão alto Como com o rumo que traçaste… Nunca vibrei tanto Como quando me alisas as penas… Talvez nunca tenha atingido a plenitude Antes de me encontrares SS

O MEU SENTIR

O meu sentir é em tudo tão intenso como o tom azul deste imenso mar. Por isso, amor, aqui to deixo todo. Fitando a sua vastidão talvez assim entendas o meu singular modo de te amar. SS

DIZER QUE TE AMO

Ousar dizer que te amo É coisa elementar E nem sequer uma novidade. Por isso nunca o disse Nem insinuei. Para quê gastar palavras Se me devolves Em cada gesto Em cada olhar O mesmo ardor Que em ti ateei SS

SE ME CHAMARES

Se me chamares E não te responder Não te zangues comigo. Não é por indiferença É mais certo ser por distracção. As minhas ideias andam confusas Entre o que tenho e o que gostaria de ter O que faço e o que deveria fazer O que sinto e não queria sentir. Se me chamares E quiseres mesmo ser ouvido Toca-me com a mão Abana-me mesmo Porque ao sentir-te O que me rodeia ou me preocupa Toma de repente outro sentido SS

VERGONHA

Perdi, amor, A ocasião de te ter No meio da confusão Deste tempo atarefado. Reencontrei-te na palavra, No som da tua voz Ao dizeres “Gostei” Nesse jeitinho especial De amante envergonhado SS

sábado, 10 de abril de 2010

OS TEU BRAÇOS

Os teus braços são longos Muito longos Quando me acolhem Tecem um ninho feito de ternura De que não posso escapar Porque o constróis à minha dimensão. Neles aqueço-me Embalada pela tua voz Que me traz os sons do mar E pelo teu corpo Que me cheira A florestas africanas. Os teus braços são longos Muito longos Um espaço de paz Onde posso descansar. SS

sexta-feira, 9 de abril de 2010

REAL

Ideias Não são mais do que conceitos Criados por nós, Copiados ou intuídos, E que muitas vezes se afastam do real. A vida só é vida Se ligada ao que se vê, Ao que se toca Àquilo cuja existência não se pode negar. Eu quero ser vista Como sou Não através de conceitos Mas pelo que revelo E para isso O meu corpo precisa de ser lido em linguagem gestual. SS

quarta-feira, 24 de março de 2010

A COR DOS TEUS OLHOS DEPOIS DO AMOR

A cor dos teus olhos depois do amor Não sei a cor dos teus olhos Depois do amor Não porque me afaste de ti Mas porque não consigo lembrar-me Poderá ser qualquer uma das cores do arco-íris Ou simplesmente as tradicionais O certo é que não sei. A cor dos teus olhos Depois do amor Nunca a vejo Apenas a sinto A envolver-me Como os teus braços Os teus lábios Como todo o teu corpo A cor dos teus olhos Depois do amor É a continuação do amor

SS

terça-feira, 2 de março de 2010

Sinto que sou insistente Talvez até impertinente Nesta busca de si De o ouvir Ou lhe falar. Desculpe Mas não consigo Perder o hábito Que ganhei há já uns anos De o “ter” sempre comigo. Não lhe peço para perdoar O assédio indecente que lhe faço Pedir por pedir alguma coisa Seria só p'ra me beijar SS

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

WHEN I NEED YOU

HOJE SONHEI CONTIGO

Hoje sonhei contigo. Não no sentido de desejar Ou mesmo de imaginar. Sonhei mesmo No sentido literal do termo. Não sei contar o que vi. Raramente me lembro Com que sonho, Mas sei sempre com quem sonho. Por isso sei que estavas lá E falaste comigo. O quê? Não sei, Porque também esqueço as palavras No lusco-fusco do sono. E que interessa O que disseste? Nem sequer te respondi. O que nunca perco É o sentir da presença. E a tua estava ali. Percebi-o na forma de despertar Devagar Bem relaxada Envolvida no calor Que o teu corpo me transmite. Sonhar deste modo tão doce É como acordar do amor. SS

domingo, 14 de fevereiro de 2010

ONDE ESTARÁ O MEU AMOR?

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Não tenho dias marcados Para celebrar o amor Por isso não me diz nada O dia dos namorados Gosto de si todos os dias E de um modo regular Não sujeito a estatísticas Nem representado em curvas De gráficos a analisar. Gosto de si simplesmente E não preciso de santos Nem de um dia reservado Para me ajudar a lembrar Que o tenho a meu lado E mesmo que por azar Nos afastemos um dia Vou continuar a gostar 13.2.2010 SS
10.2 Gostava de te ter aqui Num frente a frente De verdade Em que as palavras, mais dos que os gestos, se tecessem entre nós. Temos tanto que falar Para conseguirmos de vez Desfazer o nó Que surgiu Sem sabermos como Nem porquê E que nos ia arrastando Para um fim imprevisível. Tenho saudades, amor, De sermos nós outra vez. SS

O TEU OLHAR

O teu olhar Ensinou-me tanta coisa E até me contou histórias Algumas de encantar Outras mais para pensar E debater contigo O desenvolver da sua teia. Falavas-me do Graal Que perseguias E do Rei que mais gostavas Mas as que eu preferia Eram as da bela Inês, A rainha sem o ser. Conta-me tudo outra vez. Inventa heróis Ou refaz os conhecidos Compõe fábulas Ou cria mitos Mas fala-me de quanto sabes Mesmo que não possa entender São motivo para eu viver O que guardo em mim desse teu olhar São as histórias que gostavas de contar 11.2.2010 SS

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

IN MEMORIAM: ROSA LOBATO DE FARIA

SE EU MORRER DE MANHÃ Se eu morrer de manhã abre a janela devagar e olha com rigor o dia que não tenho. Não me lamentes. Eu não me entristeço: ter tido a morte é mais do que mereço se nem conheço a noite de que venho. Deixa entrar pela casa um pouco de ar e um pedaço de céu - o único que sei. Talvez um pássaro me estenda a asa que não saber voar foi sempre a minha lei. Não busques o meu hálito no espelho. Não chames o meu nome que eu não venho e do mistério nada te direi. Diz que não estou se alguém bater à porta. Deixa que eu faça o meu papel de morta pois não estar é da morte quanto sei. Rosa Lobato de Faria

RECORDEMOS A LETRISTA

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

RETRATO A SÉPIA

Nada em mim faz supor uma existência pintada em cores garridas contrastes fortes ou artístico preto e branco. Nem sequer Tenho uma história para contar. O meu quotidiano É perfeitamente vulgar Árido em sucessos E se tem novidades São as colhidas nos jornais. Representável? Talvez a ânsia de viver E de atravessar o tempo Sem olhar para trás. Guardo o passado Mas estou aberta ao futuro. E porque estes meus conceitos São algo de difuso Entre a cor e a sua ausência Para me definirem Só desenhando-me a sépia. SS

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

NO TEU POEMA

A música portuguesa tem tido momentos muito altos. Entre eles é de apontar esta poesia que foi divinamente cantada por alguns dos nossos melhores cantores. Foi lançada pelo Carlos do Carmo, num festival da canção. Também a cantaram Simone de Oliveira e Dulce Pontes. Vamos recordá-la No teu poema existe um verso em branco e sem medida, um corpo que respira, um céu aberto, janela debruçada para a vida. No teu poema existe a dor calada lá no fundo, o passo da coragem em casa escura e, aberta, uma varanda para o mundo. Existe a noite, o riso e a voz refeita à luz do dia, a festa da Senhora da Agonia e o cansaço do corpo que adormece em cama fria. Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte, o risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste, que vence ou adormece antes da morte. No teu poema existe o grito e o eco da metralha, a dor que sei de cor mas não recito e os sonhos inquietos de quem falha. No teu poema existe um cantochão alentejano, a rua e o pregão de uma varina e um barco assoprado a todo o pano. Existe um rio a sina de quem nasce fraco ou forte, o risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste, que vence ou adormece antes da morte. No teu poema existe a esperança acesa atrás do muro, existe tudo o mais que ainda escapa e um verso em branco à espera de futuro. José Luis Tinoco

NO TEU POEMA

domingo, 31 de janeiro de 2010

TER-TE PERTO

Ter-te perto É saber que estás aí Não interessa onde, Nem como, Presente ou ausente Apenas que estás aí. Mesmo que não te ouça Te sinta ou te veja Saber simplesmente isso Basta-me. Desde que saiba que estás aí Nada me pode acontecer Porque estás comigo. A tua força dá-me energia E o teu querer vontade. Vejo o céu no teu olhar E sigo o teu rasto Nas pegadas de cada dia. Saber que estás aí Faz-me crer Que vale a pena esperar… SS

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

PERDI O HÁBITO DE TI

Perdi o hábito de ti. A ausência Preencheu o teu lugar Com inseguranças Incertezas E saudades. Já não sei a cor do teu olhar E silenciei a memória Da tua voz. Por isso Vivo em confusão No meio das gentes E não te encontro Porque não sei procurar-te. Busca-me tu Para que não te perca. Tira-me desta sombra Em que me fecho. Não deixes que me leve O esquecimento. SS

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dá-me a tua mão E ensina-me o teu olhar. Quero ver as coisas Claras como tu. Mostra-me o céu Do teu imaginário E o mar em que navegas Quando repousas Nesse teu silêncio Tão profundo Que apenas tu sentes Mas não sabes explicar. Dá-me a tua mão E leva-me contigo Num voo de gaivotas Ou num rasto de corça, Se preferires, Mas não me deixes só. Perderia as referências Do meu sentir E esqueceria A capacidade de amar. Tornar-me-ia Uma árvore seca Levada pela corrente Que nunca encontraria a foz. Estende a tua mão, Assim De mansinho E guia o meu caminhar… SS

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Não me falas E o teu silêncio Escorre pela minha pele como gotas de suor. Invento causas Procuro razões E nada encontro. Talvez que as tuas palavras Se tenham perdido com a distância do tempo e do lugar e por isso não me encontrem. SS