Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

IN MEMORIAM: ROSA LOBATO DE FARIA

SE EU MORRER DE MANHÃ Se eu morrer de manhã abre a janela devagar e olha com rigor o dia que não tenho. Não me lamentes. Eu não me entristeço: ter tido a morte é mais do que mereço se nem conheço a noite de que venho. Deixa entrar pela casa um pouco de ar e um pedaço de céu - o único que sei. Talvez um pássaro me estenda a asa que não saber voar foi sempre a minha lei. Não busques o meu hálito no espelho. Não chames o meu nome que eu não venho e do mistério nada te direi. Diz que não estou se alguém bater à porta. Deixa que eu faça o meu papel de morta pois não estar é da morte quanto sei. Rosa Lobato de Faria

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