Quando era criança
Páscoa para mim eram as amêndoas
comidas lentamente no colo do meu pai
que me acariciava até eu adormecer;
eram as flores
que a minha mãe dispunha por toda a casa
e até, imaginem, na porta da entrada
por onde o compasso subia
ao som de sineta ruidosa
para o padre nos benzer;
eram os dia de luz
que a Primavera trazia
e o sol que nos aquecia,
indiferentes ambos
ao Calvário de Jesus;
era a mesa grande
era a família
os amigos
e até gente que pouco se conhecia
mas que era sempre bem vinda
apenas porque aparecia;
e eram os brindes com Porto
e os nacos de pão de ló,
comidos sempre à mão
e que eu roubava dos pratos
p’ra partilhar com os meus gatos.
Na minha Páscoa de infância
feita de cheiros e sabores
eu era o centro da história;
hoje
essa Páscoa
com gente, açúcar e amores
existe apenas em mim
alojada em pedaços de memória.
SS
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