Uma irreverência entre a memória e a saudade


Há um fio ténue que liga a memória com a saudade. Chamei-lhe irreverência porque ele se move constantemente e em todas as direcções fazendo-me lembrar o vento que, vindo do mar, me afaga desde que nasci...


sexta-feira, 27 de julho de 2018

EMPURREI O AMOR...

Empurrei o amor para dentro do poema
Para que ele copiasse
A forma, o ritmo e o nexo 
Que o poema tem.


Foi uma tarefa impossível, porém.
O amor não é matéria
Logo não se adapta
À forma das letras 
E muito menos cabe nas palavras
Que a métrica exige.

Tentei dar-lhe ritmo
Só que como o amor é surdo
Não respeita cadência nem padrão.

E dar-lhe nexo foi fatal
Porque ávido como é
Se dispersa em rumos diversos
Conforme melhor lhe convém
Ou mais lhe agradam os versos.

Convenci-me então
Que era impossível 
Arrumar o amor num poema.
Assim, para evitar que se perdesse por aí
Ou se metesse em algum problema
Peguei nele, afaguei-o
E com cuidado
Guardei-o de novo 
no meu coração


GM

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