Primeiro era o acordar
ao som das palavras, das carícias e do beijo do meu pai.
Depois era o correr para a minha mãe
que me acolhia nos seus braços bem apertados.
Era então a vez da tia Rosa (que foi a minha outra mãe)
e do Zé, o primo que foi meu irmão,
logo seguido pelos empregados das lojas que eram uma espécie de tios.
Assim começava invariavelmente o meu dia de anos
quando fazer anos era uma festa para mim.
O meio dia marcava a chegada à Boavista,
à casa onde nasci e onde os meus padrinhos (os novos e os velhos)
o Jaime, a Lalas e a Becas, e até a lírica Maria Emília,
retomavam o ritual de beijos e abraços que já tivera em Matosinhos.
Depois eram as corridas com o Lucas à volta da mesa da sala de jantar,
algo proibido, mas muito apetecido.
À tarde era o regresso a Matosinhos e o lanche com os amigos da minha rua
(sim porque eu tinha uma rua só para mim).
Depois das prendas e das brincadeiras
vinha o cheirinho do bolo e o apagar da vela.
Ao jantar, apesar do sono e do cansaço, era vez do meu prato especial:
Bacalhau à Brás, como hoje, tal e qual.
E acabava o meu dia
de volta à cama, nos braços do meu pai, já adormecida.
Hoje
Vou festejar os meus anos mais uma vez.
Não digo quantos
Porque me recuso a passar dos sessenta + 10.
O meu coração já não aguenta
tanta saudade do que ficou e sobretudo de quem ficou para trás.
Vou ter filhas e netos à minha volta,
e certamente os beijos e abraços de amigos,
sms, emails ou votos de felicidade pelo Facebook.
Mudam-se os tempos
ganham-se mais amizades
que vieram conviver com as que já partiram.
Todas guardo com a mesma emoção
Porque todas me marcaram com algo bonito.
Para quantos gostam de mim e mo vão mostrando
vai um abraço do tamanho deste mundo
no momento em que dou um largo passo em direcção ao infinito.
GM
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